duplicidade presente no
Amphytruo
e o atualiza. A estruturação fabular escolhida por
Plauto em seu
Amphytruo
, enfocando principalmente o relacionamento amoroso entre
Júpiter e Alcmena, é também a base na qual se apoia Saramago para recriar o tema dos
duplicados.
Assim, a fábula do texto de Saramago é pautada em inúmeras diferenças em
relação ao original latino, mas seus elementos estruturais e fabulares, mesmo deslocados
no tempo, no espaço e no contexto, permanecem os mesmos. Reportemo-nos à narrativa
que nos fornece tais indícios. A ação efabulativa do texto saramaguiano nos apresenta
uma personagem dominada por uma espécie de depressão: o professor de história
Tertuliano Máximo Afonso. Sem muito que fazer quando reconhece seu estado, a
personagem principal acata a sugestão de seu amigo – o professor de Matemática – de
assistir a um filme chamado
Quem porfia mata caça
, como um modo de desviar-se de
seus problemas depressivos – talvez o filme pudesse ser uma ferramenta que o ajudasse
a esquecer o seu mal. Por estar ocupado há meses com estudos sobre as antigas
civilizações mesopotâmicas, Tertuliano Máximo Afonso reluta em aceitar a ideia do
amigo, mas acaba cedendo à sugestão. Assistindo ao filme, o professor de história nota
a presença de um ator que possui sua exata aparência. O mesmo olhar, o mesmo modo
de falar, a mesma tonalidade de voz e os mesmos traços físicos. Enfim, Tertuliano
Máximo Afonso percebe que ele e o
outro
não são apenas semelhantes como irmãos
gêmeos, mas são iguais, sendo a única diferença entre ambos o bigode usado pela
personagem cinematográfica.
A partir desse momento, o professor de história inicia uma busca incessante para
saber quem é aquele homem igual a ele. Retornando ao lugar onde locara o primeiro
filme, aluga diversos títulos da mesma produtora, tentando identificar um nome de ator
comum a todos eles, para tentar localizar o homem que é sua cópia. Essa compulsão por
saber quem é aquele que se parece consigo faz com que suas atividades de professor
fiquem sensivelmente prejudicadas, pois troca seus compromissos rotineiros por horas a
fio assistindo aos filmes, preterindo trabalho, mãe e até mesmo a namorada, Maria da
Paz.
Depois de assistir a dezenas de títulos, a personagem descobre, afinal, que o
nome do artista que procura é Daniel Santa-Clara, espécie de pseudônimo de António
Claro, atuante em diversos filmes com papéis de pouca expressão. O professor decide