os epítetos de “olhos de porco”, “mocorongo mermado”... Além disso, o que parece
mais perturbador, daquele dia em diante, o Garanço “... dava de procurar a companhia
nossa, minha e de Diadorim; aquele tempo ele vinha costumeiro para perto.
Às vezes,
como naquilo, ele me produzia jeriza, verdadeira
.”(p.135). Importa observar o valor
ambíguo do dêitico “naquilo” que, além de depreciador, não possui referência clara no
texto. No plano da enunciação, só pode ser entendido como outra coisa que provoca
ojeriza, asco, nojo: a possibilidade de uma relação homossexual. No entanto, coerente
com a estratégia em curso, imediatamente o enunciador Riobaldo conta um episódio
muito revelador: deita-se sobre o corpo de Diadorim, marcado no capim onde este
estivera deitado.
Diadorim ... estava deitado de costas, num pelego, com a cabeça num feixe de capim
cortado. ... Depois, Diadorim se levantou, ia a alguma parte. ... De repente, uma coisa eu
necessitei de fazer. Fiz: fui e me deitei no mesmo dito pelego, na cama que ele
Diadorim marcava no capim, minha cara posta no próprio lugar. Nem fiz caso do
Garanço, só com o violeiro somei. (p.135)
A cena exposta reproduz, sem dúvida, uma encenação de abraço, que o
comentário final confirma: “Nem fiz caso do Garanço, só com o violeiro somei.” Essas
cenas já são insinuadas logo no início da narrativa, quando o narrador começa a relatar
seu amor e desejo por Diadorim, de modo a construir uma bem estruturada imagem de
relação homossexual, obviamente interdita pelo código implícito na cena de enunciação:
o sertão dos jagunços.
Amor e desejo
Expressões de amor e desejo de Riobaldo por Diadorim são recorrentes na
narrativa, além de situações limites em que a relação só não se realiza por fuga de uma
ou das duas personagens.
Logo no início da narrativa, a necessidade de aproximação e de contato físico é
explicitada:
... de mim eu sabia: ... era que eu, às loucas, gostasse de Diadorim... meu amor inchou,
de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar
Diadorim nos meus braços, beijar as muitas demais vezes, sempre.(p.33)