simbólico configurado pelos círculos modernistas, de onde se projetavam as tendências
dominantes, caracterizadas pelos fortes traços de nacionalismo, regionalismo e denúncia
social como se conferia, por exemplo, em Lobato. Conforme (Maingueneau, 2006) toda
paratopia se reduz a um paradoxo de ordem espacial. Nesse sentido, os temas europeus
na obra
Problemas da literatura infantil
refletem o deslocamento da brasilidade, ao
abordar obras clássicas, como
Alice no país da maravilhas
. Ao contrário, da literatura
infantil de Monteiro Lobato, que abordava a tradição temática da época.
Entre as diferentes facetas de Cecília Meireles no campo literário, o que se pode tirar de
denominador comum é a sua posição em relação à tradição literária universal. O projeto
literário que ela veicula nos
Problemas da literatura infantil
é a permanência da
Humanidade, da memória dos povos e dos grandes tesouros das lendas.
Por outro lado, é importante saber em até que ponto a criança cria uma dissensão em
relação ao lugar comum do adulto na sociedade. Nessa perspectiva, coloca-se em prática
uma dinâmica de negociação entre esses dois espaços, tornando o autor de literatura
infantil profundamente paradoxal. Na fronteira dos dois mundos opostos, enquanto
adulto- criança. Desse modo, é plausível afirmar que o escritor de literatura infantil
depara-se com uma paratopia linguística “” a língua que falo não é minha língua ””
(Maingueneau, 2006, p.111). Na mesma linha de pensamento de Maingueneau, Cecília
Meireles se expressa sobre o escritor de literatura infantil:
É um adulto que escreve numa língua que não é sua e temas que não são seus. Uma das
complicações iniciais é saber-se o que há, de criança, no adulto, para poder comunicar-
se com a infância, e o que há de adulto, na criança, para poder aceitar o que os adultos
lhe oferecem
(Cecília Meireles, 1984, p.30).
Assim, o adulto afasta-se do seu grupo para escrever para criança. Cria-se uma tensão
de difícil resolução, pois, nessa instabilidade, nessa integração às avessas que se tenta
explicar a delicada construção de uma obra de literatura infantil.
Nessa postura ambivalente, a literatura infantil, situa-se no interdiscurso da literatura
geral. Pelo primado do interdiscurso sobre o discurso, rompe-se com os conceitos
isolados e não integradores. Assim, o discurso literário relaciona-se com o discurso não-