Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 196

Deamar, deamo
... Relembro Diadorim. Minha mulher que não me ouça. Moço: toda
saudade é uma espécie de velhice. [...] O amor, já de si, é algum arrependimento.
Abracei Diadorim, como as asas de todos os pássaros. Pelo nome de seu pai, Joca
Ramiro, eu agora matava e morria, se bem. (p.34)
No episódio da travessia do Sussuarão, o narrador, em grande excitação,
comenta sobre os “perigos” por que passou. Tais perigos, pelo entorno discursivo, ficam
impregnados pelo significado que “perigo” e “medo” acabam adquirindo no discurso: o
amor homossexual, como podemos ver no segmento que retomamos:
Então, Diadorim veio me fazer companhia. Eu estava meio dúbito. Talvez, quem tivesse
mais receio
daquilo
que ia acontecer fosse eu mesmo. Confesso. ... Mas Diadorim
estava nos suaves. ... Que vontade era de pôr meus dedos, de leve, o leve, nos meigos
olhos dele, ocultando, para não ter de tolerar de ver assim
o chamado
, até que ponto
esses olhos, sempre havendo, aquela beleza verde, me adoecido, tão impossível.
Dormiu-se bem.”(p.38)
Mais um exemplo nos fornece a certeza de que o enunciador organiza os
enunciados de modo a fixar no coenunciador a certeza de que se trata mesmo de um
amor entre dois jagunços, prestes a realizar-se fisicamente:
Assim eu ouvi, era tão singular. ... E ele me deu a mão. Daquela mão, eu recebia
certezas. Dos olhos. Os olhos que ele punha em mim, tão externos, quase tristes de
grandeza. Deu alma em cara.
Adivinhei o que nós dois queríamos
. – logo eu disse: -
Diadorim... Diadorim!’
– com uma força de afeição. Ele sério sorriu. E eu gostava
dele, gostava, gostava. (p. 121)
Nesse segmento, observamos ainda que a expressão “força de afeição” é
enfatizada com a repetição do verbo “ eu gostava dele, gostava, gostava”.
Em outro momento, os dois jagunços encontram-se à beira do rio, em local
distante do grupo, sob uma palmeira cujas palmas arcam-se para o chão, formando uma
choupana que, segundo o narrador, remedavam “choupã de índio”. Chega mesmo a
garantir que “ [...] foi de avistarem umas assim que os bugres acharam idéia de formar
suas tocas.” Riobaldo parece lamentar o desperdício de situação tão propícia:
Sofismei: se Diadorim se furasse em mim com os olhos, me declarasse as todas
palavras? Reajo que repelia. Eu? Asco! [ MAS] Diadorim parava normal, estacado,
observando tudo sem importância. Nem provia segredo. E eu tive
decepção de logro
,
por conta desse sensato silêncio? ... Diadorim desconversou, e se sumiu, por lá, por aí,
consoante a esquisitice dele ... Ah, quem faz isso não é por ser e se saber pessoa
culpada? (p.50)
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