próprio
ethos
do narrador, configurado como um “macho” valente, jagunço, sensível e,
declaradamente, estratégico ao narrar seu amor por Diadorim, que acreditava ser um
homem. O objetivo, como já afirmamos, sempre foi manter a tensão que o próprio
Riobaldo padecera ao longo da convivência com Diadorim. Só depois da morte da
amada, Riobaldo descobre que Diadorim é Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins,
nascida em 11 de setembro de 1800e tantos... No segmento a seguir, constatamos a
declaração da estratégia aludida e da morte de Diadorim, momento em que Riobaldo
encontra um terceiro nome para o companheiro, que tanto refere feminino quanto
masculino: “Meu amor!”:
Eu conheci! Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor – e mercê peço: -
mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo
somente num átimo em que eu também só soube... Que Diadorim era o corpo de uma
mulher, moça perfeita... [...] Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo e estremeci,
retirando as mãos {...}. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. [...] E eu não
sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo: – ‘Meu amor!...’(pp.453-454)
Referências bibliográficas
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In
:
Scripta
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