O Reinaldo se chegou para perto de mim. Quanto mais eu tinha mostrado a ele a minha
dureza, mais amistoso ele parecia:
maldando
, isso pensei. Acho que olhei para ele com
que olhos. Isso ele não via, não notava. Ah, ele me queria-bem, digo ao senhor.
Mas,
graças-a-deus, o que ele falou foi
com a sucinta voz: ‘ – Riobaldo, pois tem um
particular que careço de contar a você, e que esconder mais não posso... Escuta: eu não
me chamo
Reinaldo
, de verdade. ... Pois então: o meu nome, verdadeiro, é
Diadorim
...
Guarda este meu segredo. Sempre, quando sozinhos a gente estiver, é de Diadorim que
você deve de me chamar, digo e peço, Riobaldo... (p. 120/121)
A expressividade do recurso persuasivo que visa a envolver o coenunciador na
tensão vivida pelo enunciador encontra no segmento destacado uma de suas mais
significativas ocorrências. O operador “mas”, inserido logo após a afirmação de que
“ele me queria bem”, expressa a ruptura da expectativa de que Diadorim ia falar algo
inconveniente, articulada pelas informações precedentes. Ao valor discursivo do “mas”
juntam-se a expressividade da interjeição “graças a deus” e a expressão seguinte, cuja
negativa encontra-se pressuposta: “o que ele falou foi...” contém o significado de “ele
não falou daquilo...”. De fato, a fala do jagunço revela seu nome verdadeiro – Diadorim
– que se transforma, daí por diante, numa espécie de código entre os dois amigos.
Sempre associado ao amor pela natureza e a cores e objetos delicados, Diadorim
se constrói, no discurso, como representação do bem e do mal, como pessoa delicada e
valente jagunço. A ponto de, em alguns momentos, a referência lingüística explicitar
essa ambigüidade: “Diadorim restava um tempo com uma cabaça nas duas mãos, eu
olhava para
ela
.”(p.49) Nesse segmento, “ ela” parece referir-se a Diadorim.
As inúmeras ocorrências em que a personagem é associada a cores podem
resumir-se na seguinte passagem: “Medo, meu medo. [...] Noite essa, astúcia que tive
uma sonhice: Diadorim passando por debaixo de um
arco-íris
. Ah, eu pudesse mesmo
gostar dele – os gostares...” (p.41)
Considerações finais
O exame da construção do jagunço Diadorim no e pelo discurso de Riobaldo
destacou a convergência de elementos importantes na elaboração do discurso. Pudemos
observar que a constituição da personagem deu-se na instância enuciativa, pela
conjunção de estratégias que mobilizaram traços da cena de enunciação (o momento de
descontração interlocutiva, as regras do sertão, o código dos jagunços etc...) e do