Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 185

A atribuição de uma obra a um gênero a situa com relação a “classes genealógicas”,
isto
é, dentro do que se poderia chamar a esfera literária. Existe de fato uma “esfera” onde
estão contidas todas as obras cujo vestígio foi conservado, uma biblioteca imaginária da
qual uma pequena parte é acessível a partir de um momento e de um lugar
determinados. E quanto ao posicionamento complementa: Posicionar-se é colocar em
relação um certo percurso dessa esfera com o lugar que, por sua obra, o autor se confere
no campo
(Maingueneau, 2001, p.68, grifos do autor).
Vale lembrar que não apenas nesta obra, mas no jornal
A
manhã
, em 1942, publicou
estudo de folclore infantil comparado. Nesse sentido, a reflexão da autora não se limita
à literatura escrita; há relevantes pontos sobre a literatura oral:
É que não se pode pensar numa infância a começar logo com gramática e retórica:
narrativas orais cercam a criança da Antiguidade, como as de hoje. Mitos, fábulas,
lendas, teogonias, aventuras, poesias, teatro, festas populares, jogos, representações... -
tudo isso ocupa, no passado, o lugar que hoje concedemos ao livro infantil
(Meireles,
1984, p. 55).
No momento da literatura oral, aponta-se a situação que nem todos terão aberto livros
em sua infância. Então se entra numa questão ainda maior: quem nunca terá ouvido uma
lenda, uma fábula, um provérbio, uma adivinhação? E as canções de roda, ou de ninar?
Atualmente, a função do livro infantil deveria suprir a ausência dos antigos costumes
dos contadores de história, do folclore, das canções de roda, e todas essas necessidades
que a infância precisa para continuar criança.
A paratopia e o campo literário
(Maingueneau 2006) trata a paratopia em dois planos: o da literatura como discurso
constituinte e o da criação de obras singulares. Pretendo focar principalmente a
questão da singularidade das obras, numa perspectiva da paratopia criadora.
A paratopia revela a atividade pela qual o escritor se materializa através de uma
atividade de criação e de enunciação. O conceito de paratopia, introduzido por
Maingueneau, revela uma espécie de fonte criadora que aparece na obra literária,
apreendida aqui como uma enunciação no âmbito de um discurso literário. Assim,
para produzir enunciados reconhecidos como literários, é preciso apresentar-se como
escritor, definir-se com relação às representações e aos comportamentos associados
a essa condição.
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