Entendemos que a
vontade de verdade
pode se relacionar com o trabalho
midiático na medida em que este tem como estratégia de validação dos seus enunciados
a busca pelo discurso verdadeiro, ou seja, é o discurso verdadeiro que vai normalmente
legitimar o que se diz. Seja na publicidade e propaganda, seja no trabalho jornalístico,
quando se vê o uso de estatísticas, evidências, procedimentos de verificação e o apelo às
chamadas “falas de autoridade” (baseados em entrevistas com especialistas ou
“autoridades” em determinado assunto).
Ora, essa
vontade de verdade
de que Foucault fala tem muito a ver com uma
vontade de saber
que aparece, segundo ele, por volta dos séculos XVI e XVII, na
Inglaterra principalmente, pois o saber passa a se firmar como verdade somente se for
revestido de um nível técnico que garanta que ele seja ser mensurável, classificável,
verificável e útil
7
. Em outras palavras, a
vontade de verdade
tem a ver com o “modo
como o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e
de certo modo atribuído” (
op. cit
., p 17). Foucault ainda explica melhor o que se deu
com a noção de verdade.
A verdade mais elevada já não residia no que ele
era
, ou no que ele
fazia
, mas residia
no que ele
dizia
: chegou um dia em que a verdade se deslocou do ato ritualizado, eficaz
e justo, de enunciação, para o próprio enunciado: para seu sentido, sua forma, seu
objeto, sua relação e sua referência. (1996, p. 13, grifo do autor).
Segundo esse raciocínio, podemos pensar então que a mídia, que trabalha
exatamente com enunciados, com sentidos, com materialidades – lida com o dizível e
com o visível –, vai se valer de saberes/verdades determinados, vai veiculá-los,
transmiti-los (vai também interditar e excluir outros) e, nesse sentido, vai acabar por
constituir verdades sobre os sujeitos e, enfim, vai cooperar na formação de
subjetividades.
Foucault mostra que sistemas de exclusão apóiam-se sobre um suporte
institucional. “[E]ssa vontade de verdade assim apoiada sobre um suporte e uma
distribuição institucional tende a exercer sobre os outros discursos – estou sempre
falando de nossa sociedade – uma espécie de pressão e como que um poder de coerção”.
(
op. cit
. p. 18). Ao falar disso ele se lembra de como a literatura ocidental, as práticas
econômicas e o sistema penal tiveram sempre de buscar apoio e justificações no
7
Conferir: FOUCAULT, 1996, pp. 14-20.