oposição à “história continuísta”
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, e que, por isso, firma-se como um conceito
operatório muito frutífero aos estudos do discurso, ao trazer uma outra maneira de
enxergar o acontecimento, já não mais como regular ou regulado, subjugado à uma
vontade soberana ou da ideologia dominante. Não obstante, o acontecimento passa a ser
visto como
discursivo
, capaz de fazer a história oscilar, sempre novo, atravessado por
deslocamentos, por sentidos flexíveis e mutáveis, fruto, portanto, de práticas sociais e
discursivas de homens anônimos que escrevem a história a partir de poderes que estão
em todo lugar, disseminados no interior das instituições em geral.
Podemos propor, então, que há uma rede discursiva que se desenrola da seguinte
forma:
enunciados
formam
discursos
, que pertencem a uma determinada
formação
discursiva
, que irrompem como
acontecimentos
discursivos
, que correspondem a
condições de produção
específicas, que partem de uma
memória
e de uma
história
, para
constituir os
sujeitos
e suas
práticas discursivas
, que são, desde o início, perpassados
por
relações de poder
, que estabelecem
saberes/verdades
de uma época. Seguindo esse
raciocínio, firmado na ótica de um mundo de dispersões, o que fica mais evidente é que
são, portanto, as relações de poder que irão determinar afinal os enunciados como
verdadeiros ou falsos, isto é, como válidos e funcionais ao seu tempo.
Ao verificar essa “economia das relações de poder” (1995, p. 233), Foucault
passa a investir, então, na questão do poder e constitui-se, assim, a sua fase genealógica.
Nesse momento há uma ênfase sobre as práticas de poder e a construção da
subjetividade. Não que se deixe de refletir acerca do saber, mas como explica o
pensador: “o poder político não está ausente do saber, mas é tramado por ele”
(FOUCAULT, 1999, p. 51). O que aprendemos com ele é que existem
técnicas de
sujeição
utilizadas pelas sociedades modernas, tipos de relações de poder que
constituem os sujeitos, ou seja, formam verdades/saberes sobre o sujeito. É importante
entender que Foucault escolhe o
como
para ser seu método de pesquisa, pois ele
pretende entender exatamente “‘
como
’ não no sentido de ‘como se manifesta’, mas
‘como se exerce’” o poder (1995, p. 240). Conforme vemos:
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Conferir: POSSENTI, S. Teoria do Discurso: um caso de múltiplas rupturas. In: MUSSALIM, F;
BENTES, A. (Org.)
Introdução à Linguística
: fundamentos epistemológicos. 2. ed. São Paulo: Cortez.
2004, pp. 353-389.