Abordar o tema do poder através da análise do “como” é, então, operar diversos
deslocamentos críticos com relação à suposição de um “poder” fundamental. É tomar
por objeto as
relações de poder
e não um poder;
relações de poder
que são distintas das
capacidades objetivas assim como das relações de comunicação; relações de poder,
enfim, que podemos perceber na diversidade de seu encadeamento com estas
capacidades e estas relações. (
op. cit
., p. 242, grifo do autor).
Dessa empreitada podemos elencar alguns tipos de poder que ele diagnostica e
dos quais ele discorre em diferentes momentos, como: o poder soberano, o poder do
Estado, o poder pastoral, o poder disciplinar e o biopoder. Falaremos, contudo, destes
dois últimos, por se ligarem mais as relações de poder a que a mídia pertence no jogo
dos sistemas de comunicação e por ser importante delimitar suas especificidades, visto
que podem ser confundidos na medida em que ambos atuam numa sociedade de
controle. Segundo Foucault:
O jogo das comunicações e as relações de poder estão ajustados uns aos outros, segundo
fórmulas refletidas, constituem aquilo que podemos chamar, alargando um pouco o
sentido da palavra, de ‘disciplinas’. (...) E aquilo que se deve compreender por
disciplinarização das sociedades, a partir do século XVIII na Europa, não é, sem dúvida,
que os indivíduos que dela fazem parte se tornem cada vez mais obedientes, mas que se
tentou um ajuste cada vez mais controlado – cada vez mais racional e econômico – entre
as redes produtivas, as redes de comunicação e o jogo das relações de poder. (1995, p.
242).
Em poucas palavras, quando Foucault fala de
poder disciplinar
ele está
pensando em como a disciplina constitui o
indivíduo
. Notemos que as disciplinas
veiculam o discurso da norma, da regra
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, e, por isso, irão finalmente interferir na
formação do indivíduo. Alguns dispositivos disciplinares vão formar uma sociedade
controlada, da seguinte maneira: a medicina traz o discurso de uma série de cuidados
com o corpo; as formas jurídicas trazem o discurso do vigiar e punir, tendo, por
exemplo, as prisões como excelentes dispositivos disciplinares de manutenção da
ordem; a escola traz o discurso da disciplina quanto ao modo de falar e se portar, dentre
diversos outros exemplos.
Quanto ao biopoder, o que Foucault vai sugerir é que em algum momento, no
limiar da modernidade, surge uma “racionalidade estatal que pretende não mais
controlar os corpos, mas a vida, a espécie” (SILVA, p. 174). A preocupação não é,
necessariamente, em manter o controle do indivíduo, mas sim em manter a ordem e a
produtividade da
população
, sob o ponto de vista do econômico, e, por isso, “é o lugar
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Conferir: Microfísica do poder (1979); Vigiar e Punir (1987).