Dessa maneira, trazendo à nossa análise, os conteúdos trabalhados na mídia são
parte das FDs, compreendidas como fronteiras que se deslocam, impulsionadas por um
jogo de história e memória e, dessa maneira, o sujeito discursivo, fruto do trabalho
midiático, pode ser visto de tal e tal modo, dependendo de uma memória e de
interdiscursos que, perpassados por uma rede de poderes, antecedem e interferem no
processo de sua formação, assumindo, enfim, diferentes trajetos de sentidos. Conforme
vemos:
São procedimentos discursivos que trabalham a memória e fazem esses
enunciados interagirem-se a redes de outras formulações e constituírem
outros trajetos de sentidos. (...) Cruzam-se, aí, o novo e o velho, mostrando
que os sentidos estão sempre à deriva, no entanto, podem ser compreendidos
porque atualizam (isto é, estabilizam/desestabilizam) a memória discursiva
(GREGOLIN, 2007, p. 163-164).
Nesse contexto, os enunciados devem ser considerados dentro de sua raridade e
singularidade, “sem autor único que o identifique, livre de todo o contexto que ajudaria
a situá-lo num conjunto” (BLANCHOT
apud
NAVARRO-BARBOSA, 2004, p. 110) e
que “mesmo sendo único como acontecimento, o enunciado está aberto a toda sorte de
repetição, transformação ou reativação” (
op. cit.
, p. 112). Resumindo, há um sujeito que
vai estar sempre inscrito em determinada formação discursiva, que se constituiu por
articulações entre poder e discurso, sendo possível atrelar-se a enunciados válidos
àquela formação e, assim, ele será objetivado e constituído, assumirá posições-sujeito
específicas e variadas.
Alguns exemplos do que estamos dizendo, dito de forma bem simples: a
posição-sujeito de um parlamentar da República não vai permitir que se diga ou que se
faça qualquer coisa, da forma que pretender. Por isso, temos vários casos de longas
discussões acerca de falas ou gestos que alguns fizeram ou deixaram de fazer (por
exemplo: o polêmico “relaxa e goza” da senadora Marta Suplicy ou quando a então
candidata à presidência Dilma Roussef deixa de fazer o sinal da cruz em uma cerimônia
religiosa etc.). Ou mesmo não se tratando de uma figura pública, uma pessoa “anônima”
não pode também se comportar da maneira que preferir, em qualquer lugar, não pode se
alimentar nem se vestir de qualquer forma, porque aparece a ele o tempo todo padrões
de beleza, investidos por vezes de um discurso médico de saúde etc.