desenvolver uma análise dos mecanismos de poder não pretende fazer “de forma
alguma uma teoria geral do que é o poder (...) trata-se simplesmente de saber por onde
isso [os mecanismos de poder] passa, como se passa, entre quem e quem, entre que
ponto e que ponto, segundo quais procedimentos e com quais efeitos” (FOUCAULT,
2008b, p. 3).
É importante ponderar ainda que o pensamento de Foucault é denso, e o que
propomos aqui foi apenas um resumo de algumas das suas ideias, apesar de considerar o
risco de parecer generalizante e talvez apressado, a intenção, de fato, é resgatar
reflexões do autor, no sentido de nos ajudar a pensar nosso objeto de análise, que é a
mídia como dispositivo de poder na constituição de subjetividades. Nos encontramos,
pois, de certa forma, respaldados a prosseguir em nossa análise, na medida em que ele
mesmo sugere a fertilidade do tema do poder para pensarmos questões que envolvam a
sociedade em geral. Nas palavras dele: “a análise dessas relações de poder pode, é claro,
se abrir para, ou encetar algo como a análise global de uma sociedade” (2008b, p. 05).
Sobre a questão da subjetividade
Em certo momento o próprio Foucault reconhece que o que ele pretendia era, na
verdade, “criar uma história dos diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, um ser
humano torna-se sujeito” (1995, p. 231). Ele mesmo afirma isso num artigo publicado
em um livro de Dreyfus e Rabinow, em 1995, vale citar:
Eu gostaria de dizer, antes de mais nada, qual foi o objetivo do meu trabalho nos
últimos vinte anos. Não foi analisar o fenômeno do poder nem elaborar os fundamentos
de tal análise. (...) Meu trabalho lidou com três modos de objetivação que transformam
os seres humanos em sujeitos (
ibid
. p. 231).
Os modos de objetivação de que Foucault falava são, principalmente, quanto à
objetivação do sujeito do discurso e a objetivação do sujeito a partir das chamadas
“práticas divisoras”, nas quais os sujeitos são definidos e divididos nas sociedades
como, por exemplo, “loucos ou sadios”, como “criminosos ou bons meninos”. O que ele
entende, afinal, é que na medida em que o sujeito é colocado em relações de produção e
significação, ele é, ao mesmo tempo, inserido em complexas relações de poder. Partindo
desse entendimento ele acaba por estudar a questão do poder e suas articulações com o