Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 178

Em todos esses casos pode-se dizer que o “indivíduo” tem sim a liberdade de
decidir fazer o que achar melhor para si. Mas, na verdade, não é tudo tão fortuito assim,
pois há um processo que o forma o tempo todo, indicando formas de agir e de pensar, e
é nesse sentido que sugerimos que se dá a constituição dos sujeitos. A mídia participa
desse processo de subjetivação, na medida em que lida com “práticas discursivas que
constituem verdadeiros dispositivos identitários e produzem subjetividades como
singularidades históricas a partir do
agenciamento
de trajetos e redes de memória”
(GREGOLIN, 2007, p. 161, grifo nosso).
As teorias da comunicação vão denominar esse agenciamento temático de
agenda setting
, visto que prevê o agendamento de temas e debates que vão passar pela
sociedade e entre os
media
. Assim, vemos que a mídia lida com o acontecimento, não
só trata de frases e falas, antes, trabalha enunciados atrelados a uma materialidade
histórica, que podem desencadear trajetos de sentido, fomentar discursos, comentários,
fórmulas etc. O professor Francisco Paulo da Silva, em um texto em que trata das
articulações entre poder e discurso para Foucault, nos traz o pensamento de Mayra
Gomes, no seu livro
Poder no jornalismo
, da seguinte maneira: “[e]nquanto mostram as
mídias disciplinam pela maneira de mostrar, enquanto mostra ela controla pelo próprio
mostrar (...) é em relação a controle que se diz que se não passou pelas mídias não
existem” (GOMES
apud
SILVA, p. 178).
Gomes chama atenção à uma
educação da visão
a que somos sujeitos. “Trazer à
visibilidade é, simplesmente, mostrar o mundo do ponto de vista em que deve ser visto e
esse ponto, por si mesmo, já é disciplinar: a educação da visão pela determinação do
visível” (
op.cit
., p. 177). Ou como nos indica Foucault, “é sempre na manutenção da
cesura que a escuta se exerce” (1996, p. 13).
Diante de todo o exposto, podemos dizer que, de fato, faz sentido pensar as
relações entre mídia e poder. Foucault mesmo vai falar das relações de comunicação e
os efeitos de poder:
É necessário distinguir também as relações de poder das relações de comunicação que
transmitem uma informação através de uma língua, de um sistema de signos ou de
qualquer outro meio simbólico. Sem dúvida, comunicar é sempre uma certa forma de
agir sobre o outro ou os outros. Porém a produção e a circulação de elementos
significantes podem perfeitamente ter por objetivo ou por consequências efeitos de
poder, que não são simplesmente um aspecto destas. Passando ou não por sistemas de
comunicação as relações de poder têm suas especificidades.
(1995,
p. 240).
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