Terras de Portugal
. Seu primeiro livro foi publicado em 1923, intitulado
Decadência,
os poemas revelaram à voz de uma mulher a frente da sua época, o eu-lírico era
consciente do desejo e do corpo feminino. As imagens proferidas pelos poemas
causaram repúdio e horror na sociedade conservadora lisboeta. A limitação daqueles
que censuravam os desejos do corpo, e mascaravam por meio da posição social as
rebeldias da carne foi à defesa dos ditadores contra a poética de Judith.
Em meados de março de 1923, seu livro
Decadência
juntamente com
Canções
,
de António Botto e
Sodoma Divinizada
de Raúl Leal foram cremados em praça pública,
por serem considerados ameaças contra a moral e os bons costumes da época. Este
momento atípico foi retratado na obra poética da poetisa publicada em 1996, por Maria
Jorge, uma pesquisadora portuguesa:
Nos idos de Março de 1923 o Governador Civil de Lisboa,
providencialmente sobressaltado pela alta brida de uns quantos
Estudantes Católicos sedentos de mão pesada contra a Literatura
Dissolvente que inundava escaparates e assim corroía os Santíssimos
Costumes da Pátria Lusitana, açula a polícia e faz apreender, para
depois cremar, exemplares das
Canções
, de António Botto, de
Sodoma
Divinizada
, de Raúl Leal, e de
Decadência
, duma tal Judith Teixeira –
esta com direito a adjetivo personalizado: desavergonhada. (JORGE,
1996, p.11 – grifo nosso).
No mesmo ano, a poetisa publica outro livro de poemas, o
Castelo de Sombras
, a
temática central não é mais o corpo feminino ou os desejos da mulher, mas a corrente
decadentista da época modernista. Em 1926, Judith publica
Nua. Poemas de Bizâncio
colocando novamente à margem a temática homoerótica e o corpo feminino.
Novamente o adjetivo “desavergonhada” foi usado como arma contra a obra poética da
poetisa. Os intelectuais necessitavam encontrar formas para desclassificar a poética da
escritora. Sugerindo que os desejos refletidos em seus poemas eram resultados da sua
vida privada. O discurso erótico e libertário de Judith foi censurado pelos conservadores
da época. O uso da palavra e a atuação na atividade literária forneceram a escritora a sua
imersão na vida pública, e essa atitude colocou-a como uma ameaça aos reacionários
lisboetas. Segundo Perrot (1998, p. 59), “Ainda mais do que o espaço material, é a
palavra e a sua circulação que modelam a esfera pública”, sendo a palavra à modeladora
da esfera pública, no inicio do século XX, o discurso da poetisa poderia reerguer muitas
vozes femininas, assim este discurso foi fortemente silenciado.
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