o cisne foi o sujeito da sedução e Leda o objeto desejado, aqui Leda é tanto o sujeito
como o objeto de desejo. O eu-lírico reforça a passividade do cisne diante de Leda: “no
cisne branco e mudo/ que no espelhante lado adormeceu”.
O poema pode ser dividido em duas partes: a primeira recria a imagem de
contemplação do corpo feminino frente ao espelho através dos gerúndios e advérbios de
modo; em um segundo momento, o corpo se distancia da observação passiva e reage
frente a sua imagem. O eu-lírico quer possuir-se “E a minha boca ardente/ numa
ansiedade louca/ procura ir beijar/ o seio branco erguido”, ao atirar-se no espelho
percebe que não é possível a concretização dos seus desejos “Impossíveis desejos!”.
Judith Teixeira evidencia neste poema uma mulher consciente do seu corpo e
dos seus desejos, provoca uma ruptura no discurso da época. Temos aqui um eu-lírico
feminino representado como sujeito do seu corpo e não como objeto de exposição e
desejo alheio.
O poema
Mais Beijos
inserido no livro:
Nua. Poemas de Bizâncio
(1926), não
apresenta um eu-lírico contemplativo como no poema
Ao espelho
, mas a menção a uma
relação sexual. Nele vemos a representação de uma mulher ativa na relação sexual, é ela
que conduz as ações do outro, tem consciência do seu corpo e dos seus desejos.
Vejamos:
Mais Beijos
4
Devagar...
outro beijo... outro ainda...
O teu olhar, misterioso e lento,
veio desgrenhar
a cálida tempestade
que me desvaira o pensamento!
Mais beijos!...
Deixa que eu, endoidecida,
incendeie a tua boca
4
In: TEIXEIRA, Judith.
Poemas
. Lisboa: & Etc, 1996. (p. 168).
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