conservadores, a temática homoerótica foi o estopim para a censura. Seus textos eram
considerados imorais, pois corrompiam como citou Garay “a moral burguesa, misógina
e sexista”.
A homossexualidade desestrutura a “troca das mulheres”, como afirmou Rubin
(1975), se cada mulher esta destinada a um homem, e esta ao invés de desejá-lo procura
por outra mulher, a relação da “troca das mulheres” exercida através do casamento não
se concretiza. Para os sexistas e conservadores, a mulher sendo um objeto passivo na
relação tem como única função “gerar frutos” ou “filhos”, se este processo não for
consolidado, a mulher é um ser estéril, sem valor social.
Uma última generalidade poderia ser prenunciada como uma
consequência da troca das mulheres sob um sistema no qual os
direitos às mulheres são retidos pelos homens. O que aconteceria com
a nossa mulher hipotética, caso esta não apenas recusasse o homem
para o qual estava prometida, mas pedisse uma mulher no lugar dele?
Se uma simples recusa causava pertubação, uma dupla seria
insurrecional. Se toda mulher está prometida a algum homem,
nenhuma tem o direito de dispor de si própria. Se duas mulheres
conseguissem desvencilhar-se do nexo da dívida, duas outras teriam
que ser encontradas para substituí-las. Enquanto os homens tiverem
direitos sobre as mulheres que as mesmas não possuem sobre si
próprias, será plausível esperar que a homossexualidade entre as
mulheres seja razão de maior repressão do que entre os homens.
(RUBIN, 1975, p. 12).
O conceito da “troca de mulheres” exemplificado por Rubin é importante para
compreender o repúdio causado pelos poemas de Judith Teixeira, o lesbianismo era um
tabu na época como ainda vemos hoje no século XXI. Quando essa temática parte do
processo criativo de uma mulher, os críticos não conseguem desvincular “arte poética”
de “vida privada”, sempre será relacionado a temática com sua biografia.
A poetisa “ao transgredir a moral e a inefável canonização sexual, a poesia de
Judith Teixeira adquire uma tensão erótica desviante, o que, de per si, a coloca, ao
tempo, em lugar solitário e original” (2009 apud SILVA, 2011b, p. 9), a ruptura com o
padrão sexual dominante coloca-a também dentro do movimento modernista, de uma
forma individual e original.
Vejamos o poema
Perfis decadentes
inserido no livro
Decadência
(1923):
Perfis decadentes
5
1...,430,431,432,433,434,435,436,437,438,439 441,442,443,444,445