A poetisa explora o corpo feminino e suas linhas curvilíneas “longos, esguios,
estáticos”, “dois corpos esculpidos em marfim”, “bocas sensuais!”, “braços longos e
finos!”. Os corpos passam por um processo de descoberta, os “perfis esfíngicos”,
fazendo referência a esfinge, sugere um enigma mútuo que ambos superam juntos.
Por fim, o poema sugere a concretização da relação sexual, o clímax orgásmico
“estranhas epilepsias!”. A poetisa explora através da sua arte o delinear de uma relação
homoerótica, demonstrando através do seu discurso a beleza do corpo feminino, e a
ruptura com o padrão sexual vigente.
No poema
A minha amante
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inserido no livro
Decadência
(1923), temos a
representação de um eu-lírico feminino que sofre de amor por “sua amante”, para quem
o poema é dedicado. A referência a temática homoerótica acontece neste caso, pois não
existe uma demarcação do gênero do interlocutor, apenas o título do poema. O eu-lírico
sofre com a posição da sociedade diante da sua relação amorososa “Não entendem dos
meus amores contigo/ não entendem deste luar de beijos/ há quem lhe chame a tara
perversa/ dum destrambelhado e sensual/ Chamam-te o gênio do mal/ o meu castigo/ E
eu em sombras alheio-me dispersa”. Judith explora a temática homorótico como mais
uma faceta de representação do feminino, abordando como tema central o corpo e seus
desejos humanos.
CONCLUSÃO
Judith Teixeira produziu uma vasta obra poética, retratando não apenas o corpo
feminino e seus desejos mas os acontecimentos da própria vida: a angústia, a morte, a
solidão. Neste artigo o recorte priorizou a temática do corpo, ou melhor, a escrita do
corpo. A poetisa retratou uma mulher consciente dos seus desejos, e acima de qualquer
moral vigente, a relação lesboerótica. Percebe-se que o corpo delineia a poética da
escritora, é através da representação do feminino, nas suas múltiplas esferas que
encontramos uma escritora capaz de reproduzir conceitos além das convenções e dos
estereótipos. Não temos apenas a representação ideal do feminino, mas diversas
representações que abrangem e rompem com os padrões canonizados pela sociedade.
Não restam dúvidas quanto a qualidade da obra poética de Teixeira. Entretanto,
ainda hoje é muito difícil encontrar referências dela em antologias poéticas e críticas. O
6
In: TEIXEIRA, Judith.
Poemas
. Lisboa: & Etc, 1996. (p. 62-63).
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