A mulher escritora e pública sempre foi subjugada na sociedade, afinal no
sistema patriarcal “a mulher foi criada para a família e para as coisas domésticas. Mãe e
dona de casa, esta é a sua vocação, e nesse caso ela é benéfica para a sociedade inteira”
(PERROT, 1998, p. 9). Segundo Perrot, na estrutura familiar da sociedade patriarcal a
mulher é ser integrante do espaço privado, é nele que sua função deve ser exercida.
Aquelas que avançam os limites do muro privado serão consideradas ameaças para o
bem estar da comunidade. Como relata Frieiro (1941): “As poucas mulheres escritoras
eram tidas, não raro, como viragos, como ridículas marimachos, ou como vampiresas
erotomaníacas, perigosas chupadoras de jovens corações” (p. 10).
Judith Teixeira foi uma dessas mulheres, e além de se expor no espaço público
como diretora de uma revista literária e poetisa, ela trouxe para a sua obra a temática do
corpo feminino. A escrita do corpo: seus desejos, limites e sensações. O corpo, se antes
era mudo e apenas objeto de exposição, tornou-se sujeito. Através da sua poética várias
imagens foram construídas, tanto do eu-lírico feminino consciente do seu corpo, como
também de perfis femininos abordando a temática homoerótica.
Vejamos o poema
Ao espelho
inserido no livro
Decadência
(1923):
Ao espelho
3
As horas vão adormecendo
preguiçosamente...
E as minhas mão estilizadas,
vão desprendendo
distraidamente,
as minhas tranças doiradas.
Reflectido no espelho
que me prende o olhar,
desmaia o oiro vermelho
dos meus cabelos desmanchados,
molhados
3
In: TEIXEIRA, Judith.
Poemas
. Lisboa: & Etc, 1996. (p. 52-53). Todos os poemas aqui analisados serão
retirados dessa edição.