Diante da grande repercussão entorno das suas obras, Judith Teixeira publica
uma conferência em 1926, denominada
De mim. Conferência em que se explicam as
minhas razões sobre a vida, sobre a estética, sobre a moral
. É nesse texto explicativo
que a poetisa fornece aos seus leitores as sua motivações poéticas, desmembrando o seu
processo de criação artística e evidenciando o poder de um artista, ele é sempre o
precursor, nada deve limitá-lo, tudo que servir de matéria para a arte, deve ser
apropriado por ele.
Minhas Senhoras e meus Senhores:
É uma vaidade, irritante talvez, vir falar-lhe de mim, da minha vida
interior, mas desde a apreensão, feita há anos, do meu livro
Decadência
, e depois das críticas violentas feitas ao Castelo de
Sombras, e ainda aos meus últimos poemas
Nua
– essa magnólia
ardente, bizarra e exótica, em que eu pus toda a sinceridade da minha
consciência de mulher e de Artista, e toda a verdade da minha
sensibilidade constantemente sequiosa de Beleza, que eu sinto o
desejo imperioso, enorme, de dizer à inteligência do meu tempo,
aquelas razões de mocidade emotiva que existem na minha alma e na
alma de todos aqueles que, como eu, fazem da criação artística a sua
mais nobre razão de viver! (TEIXEIRA, 1996, p. 203).
O discurso erótico proferido por uma mulher foi e sempre será condenado pelos
conservadores, pois essa atitude sujeita a mulher a uma troca de posição. Não é mais o
homem que fala dos desejos femininos, do corpo da mulher, tão usado como objeto de
mistificação. O corpo exposto como um objeto de desejo dos homens e das mulheres é
permitido, porque este corpo é mudo, não fala, não profere sensações e desejos, ele
continua no seu pedestal servindo ao desejo dos outros.
No momento em que a mulher se posiciona como sujeito, expressa as rebeldias
da carne e coloca-se como portadora de uma voz própria, consciente do seu papel de
mulher, como fez nossa poetisa Judith Teixeira, a sociedade acusa-a de corromper a
moral e os bons costumes. A voz feminina sofre constantemente o silenciamento, afinal
este discurso libertário será modelo para diversas seguidoras e o papel dos limitadores é
a dissolução da mulher-sujeito colocando como sinônimo de feminino e feminilidade a
mulher-objeto. Michelle Perrot exemplifica a relação entre o corpo como objeto de
desejo e o corpo como sujeito do desejo, “Mas esse corpo exposto, encenado, continua
opaco. Objeto do olhar e do desejo, fala-se dele. Mas ele se cala. As mulheres não
falam, não devem falar dele. O pudor que encobre seus membros ou lhes cerra os lábios
é a própria marca da feminilidade” (2003, p. 13).
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