desconstrução – do tempo e do espaço onde se passará a trama. O coro responde com as
falas entre parênteses “Era uma vez (E é ainda)/certo país (E é ainda)/Onde os
animais/Eram tratados como bestas (São ainda, são ainda)/ Tinha um barão (Tem
ainda)/Espertalhão (Tem ainda)/
Nunca trabalhava
/
E então achava a vida linda
(
E acha
ainda
, e acha ainda).” Destacamos esse trecho final pelo tipo de leitura que ele levanta
da contradição e da desigualdade social, onde toda a classe simbolizada pelo “barão,
espertalhão” continua a viver em grande privilégio, mas agora à capa da pequeno-
burguesia. Na segunda estrofe, o exagero da exploração é o tema junto com o anúncio
de sua anulação: “Mas chega um dia (Chega um dia)/Que o bicho chia (Bicho
chia)/Bota pra quebrar/E eu quero ver quem paga o pato/Pois vai ser um saco de gatos.”
As outras canções (“O jumento”, “Um dia de cão”, “A galinha” e “História de uma
gata”) apresentam os outros personagens e suas histórias de intenso e trabalho e pouco
reconhecimento, ou como a gata que sai de uma vida burguesa no apartamento e hoje
vive no meio da gataria que canta “Nós gatos já nascemos pobres./Porém, já nascemos
livres”.
“A cidade ideal”, quinta canção, é propriamente utópica como sugere o próprio
título, nela cada personagem oferece sua leitura de como seria essa cidade ideal em coro
uníssono desejam que todos os habitantes do lugar “fossem somente crianças”,
[introdução falada] Jumento: Àquela altura da estrada já éramos
quatro amigos. Queríamos fazer um conjunto, bem. Queríamos ir
juntos à cidade, muito bem. Só que, à medida que a gente ia
caminhando, quando começamos a falar dessa cidade, fui percebendo
que os meus amigos tinham umas ideias bem esquisitas sobre o que é
uma cidade. Umas ideias atrapalhadas, cada ilusão. Negócio de
louco...
[música] Cachorro: A cidade ideal dum cachorro/Tem um poste por
metro quadrado/Não tem carro, não corro, não morro/E também nunca
fico apertado
Galinha: A cidade ideal da galinha/Tem as ruas cheias de minhoca/A
barriga fica tão quentinha/Que transforma o milho em pipoca
Crianças: Atenção porque nesta cidade/Corre-se a toda velocidade/E
atenção que o negócio está preto/Restaurante assando galeto
[mudança na harmonia, ralentando e pausa] Todos: Mas não, mas
não/O sonho é meu e eu sonho que/Deve ter alamedas verdes/A cidade
dos meus amores/E, quem dera, os moradores/E o prefeito e os
varredores/Fossem somente crianças/Deve ter alamedas verdes/A
cidade dos meus amores/E, quem dera, os moradores/E o prefeito e os
varredores/E os pintores e os vendedores/Fossem somente crianças
Gata: A cidade ideal de uma gata/É um prato de tripa fresquinha/Tem
sardinha num bonde de lata/Tem alcatra no final da linha