satirizados. Todavia, ela tem sua autonomia enquanto objeto estético uma vez que
incorpora os elementos da tradição a que se filia, problematizando-os incessantemente.
E mais, ao transpor esse universo “revolucionário” da Europa para o espírito
“reacionário” que as ditaduras impuseram ao mundo subdesenvolvido, a obra reporta
profundas contradições na infraestrutura que certamente trarão consequências às
superestruturas. É esse o impulso historiográfico da obra, seu vínculo com a realidade
efetiva não permite enxergar um futuro promissor e emancipado, pelo contrário: tanto
desenvolvimento vai transformar os seres em máquinas, e no caso brasileiro, vítimas de
nosso atraso histórico, este desenvolvimento vai nos transformar de animais irracionais
em vegetais.
No plano da intertextualidade,
A Revolução dos Bichos
ecoa muito mais na
leitura contida em
Os Saltimbancos
que propriamente em
Fazenda Modelo
. Veja-se a
música de abertura “Bicharada”:
Au, au, au. Hi-ho hi-ho./Miau, miau, miau. Cocorocó./O animal é tão
bacana/Mas também não é nenhum banana./Au, au, au. Hi-ho hi-
ho./Miau, miau, miau. Cocorocó./ Quando a porca torce o rabo/Pode
ser o diabo/E ora vejam só./Au, au, au. Cocorocó./Era uma vez (E é
ainda)/certo país (E é ainda)/Onde os animais/Eram tratados como
bestas (São ainda, são ainda)/ Tinha um barão (Tem
ainda)/Espertalhão (Tem ainda)/Nunca trabalhava/E então achava a
vida linda (E acha ainda, e acha ainda).
Au, au, au. Hi-ho hi-ho./Miau, miau, miau. Cocorocó./O animal é
paciente/Mas também não é nenhum demente./Au, au, au. Hi-ho hi-
ho./Miau, miau, miau. Cocorocó./Quando o homem exagera/Bicho
vira fera/E ora vejam só./Au, au, au. Cocorocó./Puxa, jumento (Só
puxava)/Choca galinha (Só chocava)/Rápido, cachorro/Guarda a casa,
corre e volta (Só corria, só voltava)./Mas chega um dia (Chega um
dia)/Que o bicho chia (Bicho chia)/Bota pra quebrar/E eu quero ver
quem paga o pato/Pois vai ser um saco de gatos.
Au, au, au. Hi-ho hi-ho./Miau, miau, miau. Cocorocó./O animal é tão
bacana/Mas também não é nenhum banana./Au, au, au. Hi-ho hi-
ho./Miau, miau, miau. Cocorocó./ Quando a porca torce o rabo/Pode
ser o diabo/E ora vejam só./Au, au, au. Cocorocó./Au, au, au.
Cocorocó./Au, au, au. Cocorocó.
Essa canção interessa tanto por sua riqueza estilística quanto por seu caráter de
crítica social embutida na figura desses animais revolucionários e aventureiros. Os
animais têm a voz, de imediato isso fica claro sobretudo através das onomatopeias. Há
um coro formado por crianças do qual emerge a caracterização – e sua simultânea
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