Agora! Já!/Do jeito que você tá!/E o lobo parado assim/do jeito que o lobo estava/já não
era mais um LO-BO./Era um BO-LO./Um bolo de lobo fofo,/tremendo que nem
pudim,/com medo da Chapeuzim.”. A superação do medo é colocada no universo
infantil como uma superação conceitual e linguística, através da brincadeira em que
“barata é tabará,/a bruxa virou xabru/ e o diabo é bodiá”. Metáfora clara e hiperevidente
de que toda a dominação exercida deve ser combatida antes de tudo discursiva e
ideologicamente.
A obra de Chico Buarque está sempre impregnada de diálogo em variados graus.
Desde a citação e a referência direta até a analogia mais indireta sutil. Vendo-se o caso,
por exemplo, de
Ópera do Malandro
, um musical que articula diversos gêneros de
maneira altamente consciente, teve sua primeira montagem já em 1978. O discurso
teatral mimético, de representação do cotidiano social, divide o palco com momentos de
música que interrompem o fluxo da mímese, instaurando um novo tempo – o do ritmo
da canção, o tempo de sua duração. No entanto, mesmo as músicas não se concretizam
como puramente líricas, estão carregadas de um sentimento prosaico e narrativo.
Exemplo disso é “Geni e o Zepelim”, que conta todo o episódio da chegada de um
capitão em seu Zepelim, o desejo de possuir Geni, as súplicas da cidade para que Geni
atendesse o seu pedido, e, por fim, a condenação de Geni pela mesma cidade que
implorou e recebeu sua ajuda.
A
Ópera
de Chico é uma releitura da
Ópera dos mendigos
(1728), de John Gay e
da
Ópera dos três vinténs
(1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill, e “partiu de uma
análise dessas duas peças conduzidas por Luis Antonio Martinez Correa” (BUARQUE,
1978, p. 17). Como sugere a “Nota” do livro que contém o texto da peça e as partituras
do musical, houve toda uma equipe de artistas e intelectuais para compreenderem a
particularidade de cada obra específica e seus contextos históricos. Engajamento
estético e ético-político estão, e nesse momento precisam ser, intencionalmente
indissociáveis.
Essas obras são dignas de nota e recortadas dentro da extensa produção de Chico
Buarque, pois estão impregnadas de uma visão de mundo comum, possuem um ímpeto
de atuação e transformação do real que, quando incorporada à estrutura própria das
obras, não se restringe ao plano do conteúdo, chegando a se tornar um dado da forma.
Não é forçar demais a interpretação crer que haja uma relação direta entre o
1...,409,410,411,412,413,414,415,416,417,418 420,421,422,423,424,425,426,427,428,429,...445