resistência, Juvenal decide, por fim, exterminar o gado e destinar o solo ao plantio de
soja, “porque resulta mais barato, mais tratável e contém mais proteína” (BUARQUE,
1976, p. 129).
Em 1977, Chico Buarque promoveu a tradução e adaptação do espetáculo
musical infantil
Os Saltimbancos
, de Sergio Bardotti e Luiz Enriquez Bacalov, que
conheceu grande sucesso. No elenco de estreia Marieta Severo interpretava a Gata;
Miúcha, a Galinha; Pedro Paulo Rangel no papel do Cachorro e Grande Otelo
interpretando o Burro. No coro das crianças estavam Bebel Gilberto, Isabel Diegues
(filha de Nara Leão e Cacá Diegues) e Sílvia Buarque, filha de Chico e Marieta.
No
long-play
, Miúcha continuou sendo a Galinha, Nara Leão fez a voz da Gata e
Magro e Ruy do MPB4 fizeram as vozes do Jumento e do Cachorro, respectivamente.
Outras montagens aconteceram ao longo da década de 90 e mais tarde. Em 2010, entrou
em cartaz novamente no Rio de Janeiro.
O musical é inspirado no conto “Os músicos de Bremen”, recolhido pelos irmãos
Grimm. No conto um burro, um cão, um gato e um galo, cansados de serem
maltratados, abandonam seus donos e vão para Bremen, uma cidade onde poderão
enfim conhecer a liberdade. No caminho, para conseguirem comida, começam a cantar
e acabam afugentando um grupo de ladrões que desfrutavam os produtos de um roubo.
Um dos ladrões retorna, mas é atacado pelos animais numa grande confusão que o faz
crer que ali habitam monstros horríveis ou uma horrível bruxa. O conto, de origem
popular, é rico em elementos folclóricos e apesar da sua aparente simplicidade está
ricamente dotado de um sentimento das contradições sociais, voltando-se em seu
conteúdo – e em sua moral – contra essas contradições.
Em 1979, Chico lança o livro infantil
Chapeuzinho Amarelo
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. Com ilustrações
de Ziraldo, essa obra tematiza o medo, onde a Chapeuzinho está amarelada de medo,
“não ria./Em festa, não aparecia./Não subia escada/nem descia./Não estava
resfriada/mas tossia” (BUARQUE, 2011). A linguagem é lapidar e ritmada, num
trabalho poético que embeleza e comprime ao mesmo tempo. Sendo a própria
linguagem o elemento de emancipação de Chapeuzinho ante todos os seus medos,
simbolizados pelo “Lobo”. Já sem o medo do medo do Lobo ela diz: “Para assim!
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A 27ª edição dessa obra integrou a Coleção Itaú de livros infantis, sendo distribuído
gratuitamente num programa de incentivo à leitura.
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