arrancar-me à vagueza imensa,
consolar-me deste abandono,
mudar-me a posição do sono.
Ah, causador dos meus olhos,
que paisagem cria ou pensa
para mim, a noite densa?
Este poema possui um eu lírico feminino que desde a primeira estrofe declara
não ter nascido “Moro no ventre da noite / sou a jamais nascida. / E a cada instante
aguardo vida”. Na próxima estrofe, ela afirma serem seus tutores as estrelas e o
negrume, que podem ser vistos como uma representação do universo, e a areia e o sal
marinho, que são elementos importantes do mar. Tanto o universo como o mar podem
ser vistos como locais geradores de vida, nos quais a vida se inicia. Dessa forma, os
tutores do eu lírico são os possibilitadores de vida.
Na terceira estrofe, o eu lírico se declara perfeito e distante. Além disso, afirma
não ter nome, família nem rosto. Sendo assim, podemos conjeturar que se surgimento se
deu de forma espontânea e sem vínculo com coisa alguma. Se pensarmos em que tipos
de seres nascem assim, podemos lembrar dos deuses, que nascem de diferentes maneiras
e, em sua maioria, não convencionais. Também podemos pensar que o eu lírico vive
apenas no plano das ideias, ou ainda, no plano do ideal. Ora, se ele se diz perfeito e
distante, não é difícil compará-la com a idealização da mulher.
Na estrofe seguinte, fala-se da profundidade da noite e que ela “dá no que tanto
se procura”, ou seja, ela é a resposta para uma insistente pergunta, que o leitor não
conhece. Apesar da noite conter a resposta, ela continua sendo impraticável. Ao
recuperarmos a ideia de que se trata da idealização de uma mulher, podemos ver como