Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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Ao ser arguida se havia diferenciação na execução do trabalho entre homens e
mulheres e se havia algum problema na integração de mulheres na direção da Cooperativa,
Creusa afirma que não vê diferença ou significado especial para essa função. Não se vê
com função especial nesse processo, pelo fato de ser mulher. É direta em sua fala: “Acho
que não. A demanda de trabalho só aumentou e também as responsabilidades. Continuo
uma catadora. Não vejo diferença com os homens”. Observa, no entanto, que do ponto de
vista profissional adquiriu muitos conhecimentos. Consegue ter desenvoltura para resolver
os problemas da Cooperativa nos bancos e na Prefeitura. Ou seja, não tem medo ou
vergonha de falar com o gerente ou o Prefeito. E chega à conclusão de que administrar
não é fácil. Também ressalta que esses conhecimentos foram incorporados na resolução
de seus problemas pessoais e conclui que em sua casa “só gasta o que pode pagar”.
Na narrativa mais elaborada e positiva de Maria Galdino – uma das catadoras e
integrantes da Cooperativa desde 2004 e uma de suas diretoras – reafirma a indiferenciação
de gênero na condução dos destinos da Cooperativa. Esclarece a reviravolta dada em sua
vida a partir do momento em que passou a trabalhar nessa atividade de trabalho solidário,
a ponto de dizer que o seu sonho de futuro é continuar na Cooperativa porque foi ali que
viu sua vida sofrer contínuas transformações.
Entrevistador: Para finalizar, você tem algum sonho para o futuro? Algum
plano, objetivo?
— M.G.S: O sonho pro futuro, eu acho que é ficar aqui na Cooperativa, já
tem oito anos que eu estou aqui, já tem até senhora de idade que trabalha
aqui, que não consegue emprego lá fora e vem aqui procurar, mas eu
penso trabalhar até quando existir a Cooperativa, porque daqui eu não
saio não.
Entrevistador: Mudou desde que você entrou aqui?
— M.G.S: Mudou, como mudou. Fora os outros empregos que eu tive,
aqui foi o melhor, bem melhor. Então, aqui foi uma oportunidade que eu
tive, consegui minhas coisas aqui, arrumar a minha casa, então daqui
eu não pretendo sair, não. Esse ano, eu sendo diretora ou não sendo,
vou ser uma cooperadora normal, porque isso não tem desvantagem
nenhuma. A gente só é diretora e coordenadora, porque, às vezes, você
tem capacidade de aprender algo a mais para passar aos outros. Eu estou
aqui desde 2004, então eu já sei um pouco da Cooperativa. Então, eu
posso passar o que eu sei para eles.
Entrevistador: Então, é esse o seu sonho mesmo?
— M.G.S: Continuar na Cooperativa, porque a Cooperativa não acaba.
Aqui é um trabalho “indeterminado”, enquanto existir duas ou três pessoas
tem trabalho, porque material reciclável não acaba nunca e sempre vai ter
consumidor.
Entrevistador: Você mora perto da Cooperativa ou é longe?
— M.G.S: Não, eu moro na Vila Ribeiro, aliás, para baixo da Vila Ribeiro.
Entrevistador: E como você vem para cá todo dia?
— M.G.S: De ônibus. Tem o ônibus da Cooperativa que passa nos pontos
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