Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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que eu estava reclamando, insistindo para eles me mandar embora. Aí um dia a presidente
me mandou embora. Eu já estava cansada de trabalhar aos domingos, em festa lá à noite,
sabe. Eu já estava muito cansada. Aí ela mandou eu embora e eu fiquei um ano parada.
Depois, eu tinha, na minha casa ainda um filho e uma neta que eu criava, e ajudava cuidar
de uma irmã e dois sobrinhos. Aí depois eu falei assim “– Não, tenho que começar a
trabalhar”. Já descansei um pouco e o dinheirinho que se pega não vai durar a vida inteira,
né. Eu fiquei sabendo por outros colegas da Cooperativa. Vim aqui e fiz um currículo e logo
entrei. Eu vim em um dia e no outro dia já mandaram vir fazer o teste. Vim e fiz o teste.
Acho que eles gostaram e eu fiquei.
Entrevistadoras
: Você começou trabalhando onde na Cooperativa?
— A.R.B.X.
: Eu comecei trabalhando na coleta seletiva, mas eu ficava na esteira também.
Ao mesmo tempo ficava nos dois, sabe. Ia para a coleta e depois que chegava da coleta
subia para a esteira.
Entrevistadoras
: Você tinha intenção de ficar aqui na Cooperativa?
— A.R.B.X.
: Intenção não tinha não. Falei. É só até arrumar alguma coisa. Mas, só que
sai hoje, sai amanhã e sai depois. E estou aqui já há 4 anos. E outra coisa também, eu já
fui chamada bastante para trabalhar de empregada doméstica. Já fui chamada de volta lá
no Clube São Paulo, mas eu não quis ir. Por enquanto eu vou [ficar aqui] mesmo. Porque
aqui, tem algumas coisas que a gente acha que é injusto, que é ruim, mas em todo lugar
na vida tem alguma coisa que não é favorável que a gente gostaria que fosse; mas eu
gosto de trabalhar aqui! Pelo menos no sábado, se você trabalha, vamos supor até as
duas horas ou até as cinco, aí você vai embora para casa descansar. No domingo, você
não vem trabalhar, não é igual a muitos lugares que você tem que trabalhar sábado, tem
que trabalhar domingo e tem que trabalhar de noite. Você tem seus horários para ficar em
casa, mas é aquele negócio que se é assim direto você vai enjoando, né.
Entrevistadoras
: Então, você veio trabalhar aqui mais por motivo de necessidade?
— A.R.B.X.
: De necessidade!
Entrevistadoras
: Mas você tinha algum pensamento sobre a Cooperativa, sobre a
atividade de catação?
— A.R.B.X.
: Não. Para mim, a Cooperativa era como se fosse uma firma, entendeu?
Depois, ao longo dos dias eu fui observando, fui vendo que as coisas são diferentes de
uma firma, mas eu me adaptei bem. Às vezes a gente acha ruim os horários, um pouco que
eles fazem assim, né. Porque eles puxam muito, né, mas a gente fica porque a gente está
vendo que tem necessidade de ficar pelo trabalho, né. Porque se não tiver em dia isso de
onde a gente vai tirar nossa retirada, não tem como, né!
Entrevistadoras
: Você acha que é um trabalho valorizado?
— A.R.B.X.
: Não é. Ele é mais valorizado eu acho, pela observação que eu faço pelas
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