Zélia Lopes da Silva (Org.)
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passou a ser uma opção fácil de emprego pela perspectiva assinalada em seus objetivos,
desde sua criação, que se voltou para a inserção social de sujeitos em busca de algum
serviço sem exigência de qualificação prévia.
As informações sintetizadas no Quadro 1, acima, baseadas nos relatos de suas
protagonistas, também trazem outros indícios significativos, entre eles o fato de duas
dessas mulheres integrarem, na ocasião da entrevista, a diretoria da Cooperativa. Esse
aspecto deve ser assinalado porque, em seus depoimentos, elas relembram sua situação
de extrema dificuldade quando se inscreveram na Cooperativa, na tentativa de conseguir
alguma colocação, por iniciativa própria ou levada por uma colega ou amiga. Ao se
dirigirem para essa busca de trabalho com os recicláveis, em situações aparentemente
iguais de desemprego, suas percepções e sentimentos, de acordo com suas lembranças,
são distintos. Para Creusa, a sensação inicial foi de ter chegado ao fim do túnel em termos
de trabalho degradado. Já Maria Galdino, integrante da Cooperativa desde sua fundação,
tinha a expectativa de melhorar de vida e sair da condição recorrentemente vulnerável de
busca de trabalho.
A descrição, por elas mesmas, de suas trajetórias na Cooperativa, permite outros
elementos que sinalizam para a nova oportunidade pessoal dessa experiência que tem
propiciado um aprendizado permanente e a compreensão e significado do trabalho
que passaram a executar, os desdobramentos em suas vidas e a compreensão de sua
significação para a sociedade em geral; mesmo que essa sociedade nem sempre tenha
consciência do papel delas nesse processo, que é evitar a degradação cada vez maior do
meio ambiente.
Em seus relatos é assinalada a experiência com os cursos de capacitação feitos
desde a entrada na Cooperativa, em diferenciados níveis, e sua importância para o
desenvolvimento pessoal em termos de conhecimentos adquiridos e de autoestima. O
primeiro deles foi o treinamento para a realização do trabalho em grupo e, à medida da
inserção em outras tarefas, os cursos técnicos para operar a esteira e as máquinas; os
cursos de formação de lideranças e demais atividades relacionadas ao trabalho e ao
convívio no âmbito do grupo, esses últimos destinados a toda a diretoria.
As trabalhadoras relembram que esse processo de aprendizado e consequente
inserção do cooperado começa nas atividades de coleta seletiva, a primeira etapa dessa
formação. À medida que esse trabalhador ou trabalhadora se destacam nas suas tarefas
e no empenho em colaborar no desenvolvimento das atividades diversas da Cooperativa
percebem-se participando e assumindo novas funções. Assim, destacam que chegar ao
cargo de direção é o desdobramento das constantes avaliações do trabalho executado,
independente de sexo e de sua disposição para aprender e aceitar os novos desafios do
trabalho a ser realizado.
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