Zélia Lopes da Silva (Org.)
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do projeto, foram os membros da diretoria, homens e mulheres e, ainda, algumas
mulheres da coleta seletiva, selecionadas aleatoriamente
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. Essa definição permitiu, após
agendamento que nemsempre funcionou, o deslocamento das entrevistadoras até o Parque
de Reciclagem para a realização dos apontamentos orais. Para o registro das narrativas
desses protagonistas, foi utilizado gravador digital portátil, roteiro e fichas biográficas. E,
por último, foi feita a transcrição desses depoimentos, conforme as indicações da literatura
especializada sobre o assunto
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.
As gravações assinalam que esses narradores, inicialmente tímidos, contam
o percurso vivido: a escolaridade, os trabalhos desempenhados desde a infância, as
relações familiares, suas alegrias e desencontros, as saudades e tristezas evocadas por
certas lembranças, os problemas e dificuldades enfrentados ao longo dessa caminhada,
até chegarem à Cooperativa, que se tornou, para os seus integrantes, uma opção de
trabalho e de garantia de dignidade, diferentemente do percurso anterior.
A segunda parte deste livro apresenta, sucintamente, a trajetória de organização
desses trabalhadores que passaram a integrar a Coocassis
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tomando como fonte principal
pelas bolsistas Proex, Ana Carolina de Almeida Piccinin e Emily Yaeko Oka, que foram preparadas
para fazer as entrevistas e partilhar esses momentos de tensão e emoção, no ato de lembrar, desses
homens e mulheres, que concordaram em tornar público os registros de momentos relembrados,
nem sempre alegres, de suas vivências.
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As questões apontadas por Verena Alberti foram importantes para os diversos passos do projeto.
A autora afirma que “a História Oral moderna é uma metodologia de pesquisa e constituição de
fontes [...] e um caminho interessante para se conhecer e registrar múltiplas possibilidades que se
manifestam e dão sentido a formas de vida e escolhas de diferentes grupos sociais, em todas as
camadas da sociedade.” (Alberti, 2005, p.164).
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O último passo desse processo foi a transcrição das entrevistas. Trata-se de momento peculiar
que exige “dedicação, paciência e sensibilidade” (ALBERTI, 2005, p.181), além das questões
alertadas pelos especialistas quanto aos limites da interferência na transcrição do que foi dito pelos
entrevistados, dos silêncios não capturados, etc. Os depoimentos de três dos entrevistados foram
transcritos pelas bolsistas do projeto. As demais foram realizadas pelos alunos do curso de História
que integram o Programa de Formação na Área de Acervos e Bens Culturais, do Cedap, da turma
de 2012, após leituras e orientações para execução dessa atividade.
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A trajetória do “grupo inicial” e do processo de constituição da Coocassis foi estudada por Ana
Maria Rodrigues de Carvalho em sua tese de doutorado
Cooperativa de catadores de materiais
recicláveis de Assis – Coocassis; espaço de sociabilidade e seus desdobramentos na consciência
,
defendida em 2008, na USP. No capítulo 3 dessa tese a autora discute pormenorizadamente esse
trabalho de psicóloga junto a um grupo de desempregados na cidade de Assis e as dificuldades para
efetivamente ajudá-los a sair dessa condição. Informa Carvalho que, nessa busca de alternativas,
tomou conhecimento do projeto da Cáritas Diocesana que apoiava um grupo de catadores
autônomos, mas que estava vivendo impasses semelhantes e em processo de interrupção, pela
ineficácia em que se encontrava. Desse contato, surgiu a proposta de associação de forças que deu
origem a união desses dois projetos cujo objetivo era semelhante, uma vez que ambos pretendiam
ajudar essas pessoas a recuperar a dignidade perdida e garantir os caminhos de qualificação para
sua inserção no mercado formal de trabalho. O passo seguinte desses apoiadores foi buscar a
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