Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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as fotos dos principais protagonistas inseridos nesse processo e, também, a trajetória de
parte desse projeto, o qual foi realizado em diversas etapas e que agora chega ao seu fim
com esta publicação.
Os resultados aqui mostrados retraçam, com base no acervo fotográfico, o percurso
do grupo (e de seus apoiadores) que executa um trabalho fundamental para a sociedade,
tanto do ponto de vista da garantia do bem-estar geral quanto de preservação do meio
ambiente, que sofre os efeitos predatórios de sua apropriação descontrolada.
A organização desse acervo fotográfico e do próprio livro que trata da trajetória de
alguns desses cooperados pode parecer, ao senso comum, de alcance limitado para o
grupo (e de pouco glamour). Afinal, a organização desse material tinha como perspectiva a
identificação das pessoas (homens e mulheres) presentes nas fotografias e, sua posterior
organização, por agrupamento temático, visando a sua alocação em caixas devidamente
identificadas e acomodadas para as gerações futuras e para uso do próprio grupo.
Porém, não se pode perder de vista o outro lado da questão que é o sentido
simbólico do arquivamento e da preservação da memória desses protagonistas (reunidos
numa perspectiva de cooperação solidária) e da divulgação de fragmentos de suas
vivências. A primeira consequência desse esforço memorialístico é permitir que a memória
do grupo, até então “subterrânea”, chegue à superfície não como estorvo de descontentes
marginalizados, mas para acabar com a “invisibilidade” que lhes foi imposta por não fazerem
parte dos circuitos formais do mercado de trabalho e, em consequência, da sociedade,
numa clara e ampla exclusão social.
Esse caminho tornou-se possível, a partir da ajuda da Cáritas Diocesana e
de professores do Curso de Psicologia da Unesp, Ana Maria Rodrigues de Carvalho e
Carlos Rodrigues Ladeia, com base em projetos voltados à valorização desse grupo de
catadores e desempregados, realidade que tomou outro rumo, com a decisão conjunta de
sua organização em Cooperativa, como uma forma de enfrentar as dificuldades de sua
sobrevivência e, também, de garantir uma vida mais digna.
Assim feito, os passos foram em direção a outras lutas. Perspectivas novas foram
se abrindo para o grupo como um todo, até para os seus apoiadores. Da invisibilidade,
passaram aos holofotes e às manchetes dos jornais e à participação em Congressos,
Encontros, Palestras, cursos novos de capacitação, atividades culturais nas quais são os
protagonistas. O Coral, por exemplo, traduziu a experiência vivida por homens e mulheres
catadores que exibiram as suas potencialidades e dotes culturais, antes desconhecidos.
Os voos foram cada vez mais altos, até chegarem aos seus pares já organizados em
agregação desses trabalhadores e convencê-los a formar uma Cooperativa de catadores de
recicláveis, projeto que logo se manifestou arrojado e passou a exigir o envolvimento do poder
público, em dimensões local e nacional.
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