Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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em bairros que, muitos deles, não dispunham de infraestrutura adequada e não eram
devidamente assistidos pelo poder público. Os bairros mencionados foram Vila Nova
Florínea, Vila Sousa, Vila Xavier, Vila Ribeiro. Mas, também há aquelas que vieram de
outras localidades, como Echaporã (embora nascida em Paraguaçu Paulista), Santa Cruz,
Gardênia (São Paulo) e Pernambuco.
Ao examinar o próprio local de moradia, desde a infância, de algumas dessas
mulheres, constata-se que alguns desses bairros não ofereciam muitas opções de
aprendizado, pela precariedade de sua infraestrutura, como é o caso de Vila Nova Florínea,
em Assis, que só recentemente passou a ter asfalto em suas ruas. E, também, escolas,
como relata Creusa, uma das entrevistadas, que relembra a desapropriação da casa em
que a família morava de aluguel, para construção de uma escola nessa Vila.
Nesses registros, a entrada precoce no mercado de trabalho é explicada como
uma decorrência das dificuldades financeiras da família ou em razão dos constantes
deslocamentos dos pais, situações apontadas para o abandono da escola na infância.
A explicação para o abandono da escola também é atribuída a pouca valorização da
educação por parte dos pais, notadamente a escolarização das meninas que, nessa
perspectiva, deviam aprender os serviços domésticos — cozinhar, lavar e passar roupa —,
numa postura arcaica em relação aos papéis sociais para o seu desempenho no âmbito
da família e da sociedade.
O engajamento, ainda na adolescência, em alguma atividade remunerada, direciona
as suas “escolhas” profissionais para os serviços domésticos, ou aqueles associados a tais
predicados, como atividade de babá ou equivalente. Essa situação projeta-se para a idade
adulta, que em virtude da baixa escolaridade, as suas “opções” de inserção no mercado
de trabalho ficam cada vez mais restritas. O resultado desse processo é a sua entrada
no mercado de trabalho em condições extremamente desfavoráveis, sempre executando
trabalhos domésticos ou trabalhando na roça em atividades pesadas como o corte de
cana, coleta de soja, corte de arroz, varredura de rua, etc.
Portanto, essa fala dos pais sobre a preparação específica da mulher para as
atividades domésticas ou prendas do lar, não coincide com a necessidade de sua presença
no mercado de trabalho para ajudar a família. Mas, em razão da sua baixa escolaridade,
essa jovem, desde cedo, é empurrada para trabalhos pesados, no campo ou nos serviços
domésticos, como foi assinalado anteriormente. A situação agrava-se após o casamento
e as sucessivas separações, em que se veem na condição de chefes de família. E,
encurraladas pela falta de emprego, algumas delas foram empurradas para a coleta de
recicláveis pelas ruas da cidade. Outras, posteriormente, chegaram à Cooperativa pelos
mesmos motivos. Ou seja, a falta de alternativa para garantir o próprio sustento e o de
seus filhos, levou-as em direção à Cooperativa dos Catadores que, após sua constituição,
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