Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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manga, com toquinho de madeira, fazendo, né. Brincava de carrinho com os irmãozinhos,
porque tinha os meninos pequenos, os irmãos pequenos, então brincavam entre si ali. Não
tinha tanta briga entre os irmãos tanta violência, depois que fomos crescendo um pouco
se tornando mais adulto que cada um vai sabendo se defender e como a vida é. Aí você
já vai tendo mais noção do que é uma defesa. Brigava um pouquinho os irmãos machos,
mas era coisa sem agressão física, né.
Entrevistadoras
: E a relação com seus pais? Foi criada pelo seu pai e pela sua mãe?
— A.R.B.X.
: Ah, eu não tenho o que reclamar dos meus pais, não. Minha mãe era muito
brava, sabe. Ela batia, quando ela pegava, era difícil bater, mas quando ela pegava para
bater, batia mesmo: batia de mangueira de torneira, mas era muito difícil, só quando era
uma arte que deixava ela muito fora do sério. Agora o meu pai não batia. Olha, vou falar
para vocês que acho que se ele me deu uns tapas uma vez na vida foi muito. Tapa, assim,
que não chegava nem doer. Só que a gente tinha mais medo do meu pai que não batia do
que da minha mãe que batia demais. Mas, foi muito boa mãe, muitas vezes que eu apanhei
até agradeço, hoje a gente vê que até agradece as surras que a gente levou. Naquele
tempo a gente achava que era ruim, que a mãe era ruim, que a mãe era isso que a mãe
era aquilo né, porque era criança. Mas hoje, a gente percebe que aquelas surras que foram
dadas serviram para muita coisa nos dias de hoje.
Entrevistadoras
: E hoje em dia, a senhora tem ligação com seus irmãos, eles moram aqui
em Assis?
— A.R.B.X
.: Olha, até antes do falecimento da minha mãe e do meu pai a gente era
muito unido. Mas, depois que meu pai e minha mãe faleceram, aí ficou um pouco assim
dispersado, sabe, porque cada um tomou um rumo na vida, tem seu trabalho, tem sua
família. Uns moram mais longe, outros moram mais perto. A gente mesmo sai cedo e
chega de noite. Final de semana, a gente tem bastante serviço para fazer em casa, então
você não tem tempo também para está visitando quase ninguém mais né, mas a gente
sempre se deu bem né.
Entrevistadoras
: Algum deles trabalha como catador aqui na Cooperativa?
— A.R.B.X.
: Não, não, meus irmãos nenhum é catador. O que é catador mesmo é meu
filho. De vez em quando ele começa catar e vai um tempo. Depois ele dá uma parada e vai
para outro serviço, porque ele é pedreiro também, né. Ele faz as coisas dele, uma hora ele
está vendendo verdura outra hora ele está catando material reciclável, outra hora ele está
trabalhando de pedreiro. É o que vem na frente quando está precisando enfrenta.
Entrevistadoras
: Seus pais também não chegaram a prestar esse tipo de trabalho?
— A.R.B.X.
: Não, meu pai era funcionário público e a minha mãe, de vez em quando
trabalhava de doméstica, mas a maioria do tempo era só do lar mesmo.
Entrevistadoras
: E da época da escola? Você falou que frequentou até a quarta série.
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