Memória dos Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (2001-2007)
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hora que saí daqui, como que você vai estudar? E outra coisa, você sai daqui, tem dia que
você vai menos cansada, mas tem dia que você sai daqui até com o folego meio difícil de
respirar, pelo cansaço. Então, você não vai ter coragem mais de chegar em casa tomar um
banho rapidinho e ir para escola.
Entrevistadoras
: Qual a importância sobre o trabalho de vocês em relação à preservação
do meio ambiente?
— A.R.B.X.
: Olha, eu como sempre na minha vida desde criança, eu gosto muito da
natureza. Então, eu procuro não estragar nada que é da natureza. Nada. Nem arrancar
uma folha de uma árvore, tenho dó, porque, às vezes, você para, você olha quanta coisa
bonita Deus fez, o povo está destruindo tudo. É tão gostoso quando está aquele calorzão,
aquele sol quente sentar debaixo da sombra de uma árvore, a coisa mais gostosa do
mundo, não é? Eu gosto muito da natureza, animais, aves, tudo que envolve a natureza
eu gosto.
Entrevistadoras:
E esse trabalho que a gente está fazendo de entrevistar vocês, você
acha que tem alguma importância?
— A.R.B.X.
: Mas vocês entrevistam nós a fim do quê? Para analisar o modo das pessoas
viverem?
Entrevistadoras
: Como falei no começo, é mais para constituir uma memória de vocês,
mostrar o trabalho de vocês para todo mundo.
— A.R.B.X.
: Para as pessoas saberem?
Entrevistadoras
: A nossa professora quer fazer um livro sobre a memória de quem
trabalha aqui e, com isso, divulgar cada vez mais lá fora o trabalho de vocês.
— A.R.B.X.
: Eu acho importante o trabalho de vocês. Assim, a entrevista, porque através
do livro as pessoas vão se conscientizando do que as outras pessoas que não têm estudo,
não têm condição financeira boa, não têm estrutura educacional avançada, né, vão
sabendo o que essas pessoas passam, né.
Entrevistadoras
: Acho que é só isso. Agradecemos muito.
— A.R.B.X.
: Eu que agradeço, porque é bom conversar, a gente quase não conversa.
Às vezes, a gente vai conversar assim até se emociona por algumas coisas que a gente
lembra.
Eu sinto tantas saudades dos meus pais. (com voz tremula, parece emocionada).
Entrevistadoras
: O tempo passa, né. A gente não para pra pensar, né?
— A.R.B.X.
: Não!
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