Zélia Lopes da Silva (Org.)
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— A.R.B.X.
: Olha, na escola, também não tinha inimigos; às vezes alguma briguinha
assim. Mas, coisa de criança pequena, né, mas onde eu fui sempre fui muito querida,
muito bem inserida.
Entrevistadoras
: Você gostava da escola, de estudar?
—A.R.B.X.
: Gostava, gostava muito da escola e queria ter tido a oportunidade para estudar
firme, sabe, até fazer uma faculdade [e] terminar tudo. Porque o sonho que eu tinha mesmo
era ser uma juíza, uma aeromoça ou uma médica, até mesmo uma policial militar. Mas,
nenhum dos meus sonhos foi concretizado, porque eram bastante irmãos. Então, os que
eram mais velhos tinham que começar a trabalhar muito cedo para ajudar os pais a cuidar
dos outros irmãos, porque as necessidades eram grandes. Você vê, 11 irmãos não era
brincadeira para os pais cuidarem. E os irmãos mais velhos se casavam e muito cedo
saiam de casa. E os pais coitados ficavam a vê navios, né. Então, eu tinha muita dó dos
meus pais, então comecei a trabalhar muito cedo. Às vezes, a minha mãe colocava a gente
para trabalhar para vizinhos pobres, igual a gente. Só pra gente ir aprendendo, para gente
ingressar no meio de trabalho.
Entrevistadoras
: Você começou a trabalhar com que idade?
— A.R.B.X.
: Com sete anos eu já deixava a cozinha limpinha para minha mãe antes de ir
para a escola. Sete horas da manhã entrava na aula e já tinha que a cozinha está limpinha
para ela. Era muita criança para cuidar. Era muito serviço na casa para fazer. Mas, para
gente aprender ela já começava a colocar desde cedo. Aquela época que eu deixava a
cozinha pra ela limpinha, não tinha negócio de fogão a gás, torneirinha não. Era bacia,
fogão de lenha, inclusive até hoje eu adoro cozinhar em fogão de lenha. Eu só não faço
isso porque eu moro em casa alugada e é ruim para você fazer, né. Mas, se for por mim
mesmo eu só cozinho em fogão de lenha.
Entrevistadoras: Você gostava da escola, mas teve que sair por causa do trabalho?
— A.R.B.X.
: É por causa do trabalho!
Entrevistadoras
: E hoje em dia você está separada, mas qual foi o motivo que levou à
separação?
— A.R.B.X
.: Olha, eu nunca fui uma pessoa ciumenta assim na vida, mas teve uma época
menina, que me bateu um ciúme tão grande do meu marido sabe aquele ciúme assim
que parece que você vai ficar louca. Aí você já viu né, mulher enciumada e ferida vira um
trem né. Aí eu brigava muito com meu marido: brigava cedo, brigava na hora do almoço e
brigava de tarde. Coitadinho né, não aguentou (risos). E onde eu trabalhava (eu trabalhei
no Clube São Paulo quase 12 anos) tinham umas donas lá, igual umas donas que tem aqui
na Cooperativa, né. E todos os homens que entravam lá no clube elas já atacavam igual
aqui. Já fazia tempo que meu marido trabalhava lá. Elas já tinham revirado tudo que tinham
que revirar; aí partiram para o lado do veinho né (risos). Mas é aquele negócio assim sabe,
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