Zélia Lopes da Silva (Org.)
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Prefácio
Drª. Ana Maria Rodrigues de Carvalho
Dr. Carlos Rodrigues Ladeia
É um prazer constatarmos na Academia a presença de docentes e alunos que se
dispõem a dedicar parte de seu tempo, saber e energia a uma parcela da população tão
pouco valorizada como é o caso dos catadores de materiais recicláveis.
A proposta deste livro ao coletar, sistematizar, analisar e publicar histórias e
fotografias de pessoas que marcaram sua passagem na Cooperativa de Catadores
de Materiais Recicláveis de Assis e Região - COOCASSIS, dando visibilidade a esses
trabalhadores, contribui para fortalecer o reconhecimento que esperam dos poderes
públicos e da comunidade em geral pelos serviços que prestam à sociedade. Ao mesmo
tempo, joga mais um foco de luz na desigualdade social brasileira, aliás, reconhecida por
alguns, inclusive os catadores, como avalia uma das entrevistadas:
Eu acho importante o trabalho de vocês. Assim, a entrevista, porque
através do livro as pessoas vão se conscientizando do que as outras
pessoas que não tem estudo, não tem condição financeira boa, não tem
estrutura educacional avançada né, vão sabendo o que essas pessoas
passam né?
Dedicação acadêmica como essa que resulta na publicação deste livro não surge
por acaso, mas de um compromisso político que atravessa o fazer profissional de uma
intelectual, sobretudo de uma educadora que incita seus alunos a olharem para os grupos
populares e a ver neles uma parte da nossa história.
Entre os trabalhadores que se viram privados de alternativas de sobrevivência no
mercado formal de trabalho, estão aqueles que encontraram na catação uma oportunidade
de trabalho e renda. Entretanto, o trabalho individual de catador submete esse sujeito à
exploração dos “atravessadores” que pagam preços irrisórios pelos materiais coletados
durante um dia todo, em geral, quantia insuficiente para garantir sua sobrevivência. Por
outro lado, a atividade desenvolvida individualmente não é valorizada pela sociedade,
que muitas vezes, de modo preconceituoso e/ou desrespeitoso, trata o catador como um
vagabundo, como indica uma entrevistada: “(...) para mim, catadora o povo sempre taxa
de vagabundo, de lixo (...)”.
A organização dos catadores em cooperativas ou associações tem sido uma
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