decorre de uma necessidade, para que a linguagem constitua os sujeitos que dela fazem
uso. Assim, ao utilizar-se da língua, o sujeito o faz como se ela sempre estivesse ao seu
dispor ou, ainda, sem refletir sobre o papel que a história, a ideologia tem nesse
processo de constituição da linguagem. O papel da ideologia na linguagem é tornar
evidente aquilo que defronta os sujeitos, ou seja, os sentidos são representados como
incontestáveis. O processo que cumpre a ideologia se dá da seguinte maneira (Orlandi,
2009, p. 46):
Naturaliza-se o que é produzido na relação do histórico e do simbólico. Por
esse mecanismo – ideológico – de apagamento da interpretação, há
transposição de formas materiais em outras, construindo-se transparências –
como se a linguagem e a história não tivessem sua espessura, sua opacidade –
para serem interpretadas por determinações históricas que se apresentam
como imutáveis, naturalizadas.
Considerar que a linguagem significa o mundo e que esta se faz, em grande
medida, por meio de textos oral e escrito, implica, por sua vez, também que estes devem
ser interpretados. Neste sentido, a autora em questão (op. cit., p. 17) afirma que “a
linguagem não é transparente”. Portanto, a interpretação, aqui proposta, distingue-se
daquela concebida pela Hermenêutica, isto é, não se trata de interpretar o conjunto de
palavras dispostas, mas compreender como um objeto simbólico produz sentidos. Para
tanto, devem ser interpretados os próprios gestos da interpretação, para que se possa
captar o real do sentido que não está estampado no texto, mas que o configura.
Segundo Chartier (1996, p. 9), “ler não é descobrir o sentido do texto em função
do domínio do código, é construir um sentido para tal texto, graças a conhecimentos
anteriores (entre os quais, o código), ao contexto de recepção, aos elementos de
informação selecionados etc.”. Assim sendo, o sentido não está impresso nas palavras
que integram o texto, e à leitura não cabe apenas a interpretação dos elementos gráficos.
A compreensão de um texto insurge de processos cognitivos múltiplos os quais envolve
a produção de sentidos. Esse fato decorre da significância que o texto adquire para cada
sujeito, isto é, uma leitura nunca é igual à outra, seja para sujeitos diferentes, seja para o
mesmo sujeito em diferentes momentos de sua vida, pois cada leitor mobiliza conceitos
distintos, faz recortes que outro leitor não faria, para a construção do sentido do texto.
Contudo, isso não significa que a interpretação feita por uma pessoa é certa e a outra é
errada, mas sim que uma pessoa possui um sistema de referência maior que a outra e
que, por isso, haverá variações de sentido.