a execução de tais atividades. As posições que as crianças ocupam em determinadas
práticas de leitura e escrita variam muito, podendo assumir ora a posição de autor, ora a
de leitor, ora a de narrador. As situações empíricas experimentadas pelos alunos em sala
de aula, a partir da troca do lugar social feita por meio de práticas sociais de leitura ou
escrita, permitem a formulação do intradiscurso. Em outras palavras, o fato de a criança
provar diferentes papéis sociais, no processo de alfabetização, possibilita que esta migre
de uma instância discursiva para outra. Nesse movimento, as heranças dialógicas, isto é,
as vivências significativas que constituem a memória, nas palavras de Orlandi (2009, p.
32), “todas as filiações de dizeres”, permeiam o que é dito/escrito pelo sujeito-criança.
A referida autora (id. ibid.) assenta que
[...] há uma relação entre o dito e o que se está dizendo que é a que existe
entre o interdiscurso e o intradiscurso ou, em outras palavras, entre a
constituição do sentido e sua formulação Courtine (1984) explicita essa
diferença considerando a constituição – o que estamos chamando de
interdiscurso – representada como um eixo vertical onde teríamos todos os
dizeres já ditos – e esquecidos – e uma estratificação de enunciados que, em
seu conjunto, representa o dizível.
Por isso, nas atividades de produção de texto, em sala de aula, a construção
textual da criança, por vezes, pode parecer, aos professores, desconexas,
descontextualizadas. Porém, considerando o eixo norteador dessas produções, o
interdiscurso, nota-se que, muitas vezes, as oscilações de sentidos, as aglutinações de
palavras, o influxo de sentido (SMOLKA, 2003), denotam a dinâmica complexa que é o
trabalho da estruturação da escrita, a qual envolve um movimento cognitivo calcado no
outro. Dito de outra maneira, a elaboração da escrita depende das experiências que a
criança estabeleceu com esta e que formularão seu discurso interno. Este por sua vez,
voltar-se-á sobre sua escrita, como síntese, transformado, (re) elaborado, (re)
significado. Nesse processo, assumir o papel de escritor-leitor é de suma importância
para a criança, pois, dessa forma, ela ocupa o papel do outro – o
eu
que lê – e que
compreende o que escreveu e, assim, assume uma postura responsiva para com sua
escrita.
A leitura é uma prática que possibilita inúmeras construções de sentidos. Os
discursos contidos não são os mesmos para todos os leitores; isso dependerá do
interdiscurso de cada um e será este que determinará os conhecimentos prévios do
sujeito. O texto, por sua materialidade, não está a serviço de uma única interpretação; a