domina ao entrar nos anos iniciais de alfabetização. Sendo assim, é pertinente que se
faça o seguinte questionamento: qual o motivo para tantas crianças enfrentarem o
insucesso na leitura e, por conseguinte, na produção de textos escritos, em sala de aula,
não conseguindo, desse modo, identificar o propósito do texto?
Para discorrer sobre tal questionamento, é preciso levar em conta que leitura e
produção de texto são práticas de usos sociais e, nesse sentido, estão, diretamente,
correlacionadas, pois se estruturam em torno da língua escrita. A escrita, por sua vez,
por um trabalho de linguagem, não é resultado de algo sem precedente, “que rompe pela
primeira vez o eterno silêncio” (BAKHTIN, 2000, p. 291). Pelo contrário, a escrita,
enquanto enunciado, traz consigo fatos sócio-históricos e, consequentemente, políticos e
ideológicos, essas características não são inerentes às palavras, mas decorrem da
discursividade em que a língua está inserida. Sendo assim, leitura e produção textual
apresentam-se como um elo na infindável cadeia da comunicação verbal, pois, são
enunciados que se constituem de acordo com a história de vida de cada sujeito. O
referido autor (op.cit., p. 298), posiciona o texto escrito, enquanto obra, no mesmo nível
da réplica do diálogo, atribuindo a este um caráter enunciativo:
A obra, assim como a réplica do diálogo, visa à resposta do outro (dos
outros), uma compreensão ativa, e para tanto adota todas as espécies de
formas: busca exercer uma influencia didática sobre o leitor, convencê-lo,
suscita sua apreensão crítica, influir sobre êmulos e continuadores etc. A obra
predetermina as posições responsivas do outro nas complexas condições da
comunicação verbal de uma dada esfera cultural.
No entanto, ressalta-se que esta postura predeterminada pela obra diz respeito a
um compromisso por parte do leitor com o dizer do autor; a escrita provoca no leitor
uma atitude responsiva seja esta de aceitação, contestação, contraposição etc. A obra
encaminha a uma resposta, mas esta pode derivar para diversas posições, pois há
inúmeros sentidos imbuídos em um texto e sobre isso o autor não tem domínio, pois
cada leitor tem uma bagagem particular de vida e essa conotará o implícito do texto.
Visto que a leitura e a produção de textos escritos se configuram dentro do
arcabouço linguístico-discursivo que compreendem as atividades humanas, em geral, é
impossível pensar o ensino dessas práticas sem considerar o repertório de vida que
culminam nos conhecimentos prévios que cada leitor/escritor possui. É exatamente
nesse ponto que este trabalho dialoga com a corrente teórica da Análise do Discurso,