Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 712

A construção de sentidos por meio da leitura em conjunto, entre os partícipes da
interação em sala de aula, promove um levantamento dos conhecimentos prévios dos
alunos, no momento em que falam. Na leitura coletiva de um dado texto, em sala aula,
ocorrem várias trocas de conhecimentos e a interpretação tem a chance de ser mais
completa. O sujeito se depara com um novo modo de ver o mundo e, desse modo, seus
conhecimentos se alargam e novas estruturas significativas são construídas entre o
sujeito e a escrita.
Entretanto, tal observação parece não ser levada em conta, em sala de aula, na
busca por leituras fidedignas, isto é, pela expressão oral corresponder exatamente à
grafia, ou, ainda, pela mera interpretação do texto sob a égide de perguntas restritivas
como, por exemplo, o quê? Quem? Onde? É disseminada uma falaciosa concepção
sobre a linguagem. Tratando o texto dessa forma, ignora-se o fato de que a língua é um
constructo sócio-histórico, portanto, a escrita não se encerra em si. Conceber a
linguagem sob esse ponto de vista, como se a escrita se satisfizesse por si só, implica
desvirtuar os aspectos discursivos e dialógicos da língua e, por conseguinte, perde-se a
essência do sujeito em processo de aprendizagem. Este, por sua vez, torna-se um ser
assujeitado, não-pensante, passivo como fora visto em práticas alfabetizadoras de
outrora.
Para não incorrer por esse caminho errôneo, o qual trata o ensino da língua como
uma pseudolinguagem, é que, aqui, recorre-se à formulação de interdiscurso e a sua
primazia sobre as práticas de linguagem, a fim de que este possa abalizar as atividades
de leitura e produção de textos escritos, em sala de aula. Nesta esteira, leva-se em
consideração que os sujeitos envolvidos em um processo de aprendizagem da língua
escrita e da leitura são seres sócio-históricos e, portanto, estão inseridos em uma
discursividade. Em outros termos, o discurso do sujeito ou enunciado, advém de uma
situação inserida tanto no contexto imediato da enunciação quanto no contexto sócio-
histórico, ideológico, mais amplo, em que estão todos os dizeres já mencionados.
Trabalhar com o interdiscurso é resgatar a memória dos sujeitos, seja ela restrita ou
ampla e, assim, constituir uma formulação interna contínua que dá existência ao sujeito,
pois, ao elaborar o discurso, o aluno se projeta na língua.
As atividades de leitura e produção de textos escritos, nas séries iniciais do
ensino fundamental, quando trabalhadas sob o ponto de vista de sua função social,
constituem-se como objetos de aprendizagem tanto da linguagem quanto da história, já
que nessas práticas o aproveitamento das condições de produção é o eixo norteador para
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