autoria imputa uma noção discursiva do texto. Nesse sentido, autor e autoria se
distingue: o autor é visível, pois é dono de seu dizer, constrói um texto coeso e coerente,
respeitando as regras textuais; já a autoria advém de sujeito opaco, o qual apresenta um
discurso cuja característica principal é a não transparência (ORLANDI, 2009).
De acordo com essa autora, o autor demonstra em seu texto suas intenções, seus
objetivos, suas finalidades, por isso, torna-se aparente ao leitor. Assim, ao mesmo
tempo em que o autor, como sujeito, tem um compromisso para com o texto
(exterioridade), ele também se remete ao seu interdiscurso (interioridade). Esse processo
“implica uma inserção do sujeito na cultura, uma posição dele no contexto histórico-
social. Aprender a se representar como autor é assumir, diante das instâncias
institucionais, esse papel social na sua relação com a linguagem: constituir-se e mostrar-
se autor” (ORLANDI, 2009, p. 76).
A constituição de sujeitos leitores e produtores de textos escritos com autonomia
e como, de fato, seres da linguagem provém de um trabalho pedagógico que considere o
interdiscurso como o lugar na memória possível para que aconteça uma ascensão do
sujeito do discurso. Sobre isso, Martins (1985, p. 19) argumenta que
A psicanálise enfatiza que tudo quanto de fato impressionou a nossa mente
jamais é esquecido, mesmo que permaneça muito tempo na obscuridade do
inconsciente. Essa constatação evidencia a importância da memória tanto
para a vida quanto para a leitura. Principalmente a da palavra escrita – daí a
valorização do saber ler e escrever -, já que se trata de um signo arbitrário,
não disponível na natureza [...].
Portanto, o propósito das atividades, em sala de aula, de leitura e escritura deve
estar voltado para as “interações das condições interiores (subjetivas) e das exteriores
(objetivas). Elas são fundamentais para desencadear e desenvolver a leitura” (Id. ibid.,
p. 21) e as produções escritas.
Nesse sentido, Bakhtin (1995, p. 48) desenvolve o trabalho no qual implica as
condições externas na formação da consciência humana, isto é, o trabalho que cabe ao
interdiscurso engendrar na constituição do intradiscurso:
Os processos que, no essencial, determinam o conteúdo do psiquismo,
desenvolvem-se não no organismo, mas fora dele, ainda que o organismo
individual participe deles. O psiquismo subjetivo é o objeto de uma análise
ideológica, de onde se depreende uma interpretação sócio-ideológica. O
fenômeno psíquico, uma vez compreendido e interpretado, é explicável
exclusivamente por fatores sociais, que determinam a vida concreta de um
dado indivíduo, nas condições do meio social.