III. Provérbios cuja forma foi alterada
1.
Quando um não quer...
(17/04/09 – Eliane Catanhêde – “Quando um não quer...”) -
Do provérbio original –
Quando um não quer, dois não brigam
– foi mantida sua
convergência temática, mesmo que tenha sido suprimido seu final. A crônica trata das
relações dos Estados Unidos com Cuba, que estariam em uma espécie de pacto pacífico
que poderia ser rompido por Hugo Chávez e Evo Morales. Esse título dialoga com o
provérbio original no próprio texto, iniciando o quarto parágrafo. Podemos, então, fazer
aqui duas análises. No caso do título, em que a parte suprimida é substituída pela
reticências, o locutor conta com o reconhecimento, por parte do leitor, do sentido geral
do provérbio, mas com a possibilidade de derivar para um sentido outro, divergente do
original, já que o uso desse recurso linguístico objetiva deixar a completude do sentido
para o interlocutor. No corpo do texto, entretanto, essa ambigüidade é desfeita, pois,
após a inserção do provérbio original, a cronista diz “
Nesse caso, nenhum dos dois acha
que é hora de brigar
” para, no último parágrafo concluir: “
ele
[Obama]
não é um bom
alvo da pancadaria”
. Portanto, o aspecto dialógico do texto se apresenta tanto com seu
exterior, no caso do uso do provérbio como a voz do outro, como com seu interior, já
que o título encaminha o leitor para uma completude do sentido no corpo do texto.
2.
Antes perto do que inacessível
(24/11/09 – Eliane Catanhêde – “Antes perto do que
inacessível”) - O provérbio original –
Antes tarde do que nunca
– sofre uma alteração
na sua estrutura linguística no aspecto lexical, usando o recurso da substituição. Esse
procedimento visa tão somente manter o sentido convergente do provérbio modificado
considerando o sentido geral do texto, aproveitando a estrutura proverbial “Antes
x
do
que
y
”, que indica uma gradação benéfica ascendente a respeito de um acontecimento
[melhor
x
do que
y
]. A autora, que trata da visita do presidente do Irã, Mahmoud
Ahmadinejad, ao Brasil argumenta que “
É melhor ter o Irã por perto e submetido a
alguns compromissos do que tê-lo isolado para fazer o que bem entender
”, usando a
mesma estrutura proverbial. O aspecto dialógico convergente, então, fica evidente na
argumentação, já que o próprio provérbio, como vimos, é um recurso argumentativo de
peso, pois o locutor tão somente adere à opinião da sociedade.