Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 553

enunciados faz-se necessária uma abordagem por uma perspectiva teórica que não
considere o sujeito como fonte absoluta do dizer.
Mikhail Bakhtin (1992), questionando a dicotomia língua/fala proposta por
Saussure, parte do princípio de que a linguagem é um processo de interação social em
que o outro tem fundamental importância, já que a enunciação é fundamentalmente
dialógica. Esse aspecto dialógico da linguagem envolve não só a interação face a face,
mas, em um sentido mais amplo, toda a interação verbal. Qualquer enunciação
representa apenas uma parte de uma comunicação verbal mais ampla, que abrange um
momento da evolução de um grupo social determinado.
Dessa maneira, todos os processos enunciativos, desde os mais simples,
cotidianos, até os mais complexos, fazem parte de uma atividade de linguagem que não
tem começo nem fim; cada enunciação é modelada pela palavra do outro. A teoria
bakhtiniana representa uma mudança de perspectiva nos estudos lingüísticos, pois a
inserção do sujeito no fato lingüístico implica um novo objeto de linguagem: o discurso.
E é no discurso que os conceitos de polifonia e dialogismo vão ser articulados.
Bakhtin foi o primeiro teórico a introduzir a noção de polifonia para o estudo da
literatura romanesca (MAINGUENEAU 2005), no qual é dada a voz a diferentes
personagens e a voz do autor não se sobressai. Nos estudos sobre os romances
polifônicos de Dostoievsky, Bakhtin adverte para a existência não de uma única voz,
numa perspectiva única do autor, mas para a existência de várias vozes que, embora
muitas vezes conflitantes, estão em sintonia com a obra como um todo. Para ele, as
relações dialógicas devem “converter-se em posições de diferentes sujeitos expressas na
linguagem” (BAKHTIN 2005, p.183)
O “objeto principal” do estudo do romance polifônico é o
discurso bivocal
, no
qual a palavra tem duplo sentido, pois está voltada para o próprio discurso, como
palavra comum, e para o discurso do outro. Entretanto, as palavras do outro não são
meras reproduções, pois introduzem algo novo, tornando-as bivocais. O discurso
cotidiano está repleto da palavra do outro, que se funde com ele, reforça-o ou, ainda,
antagoniza-o.
Baseando-se na terminologia bakhtiniana, Schimiti (1989, p.46) agrupa o
discurso bivocal em duas amplas classes, de acordo com a atitude do autor do discurso
em relação ao outro discurso. Assim, tem-se o
discurso bivocal de efeito convergente
,
1...,543,544,545,546,547,548,549,550,551,552 554,555,556,557,558,559,560,561,562,563,...1290
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