Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 557

B.2. Intertextualidade implícita
A intertextualidade implícita se manifesta quando é introduzido em um texto um
intertexto alheio sem que lhe faça menção com o objetivo de seguir-lhe a orientação
argumentativa, questioná-lo, ridicularizá-lo ou, ainda, contradizê-lo. Para Schimiti
(1989), a intertextualidade implícita configura-se como uma manifestação polifônica da
intertextualidade. Baseando-se no conceito de palavra bivocal, proposto por Bakhtin, a
autora agrupou as diversas manifestações de intertextualidade implícita em duas amplas
classes, a classe dos discursos bivocais convergentes e a classe dos discursos bivocais
divergentes, como vimos anteriormente neste trabalho.
Maingueneau (2005, p.173), mesmo sem a denominação específica de
intertextualidade, analisa a presença do outro como um fenômeno polifônico de
captação
, quando os textos seguem a mesma direção argumentativa, e de
subversão
,
quando as direções argumentativas entre os textos são antagônicas ou desqualificadoras.
Em ambos os casos, de acordo com Koch (2004, p.146), é necessário, por parte do
interlocutor, o reconhecimento do intertexto para que o sentido seja construído. Isso se
faz mais premente nos casos de subversão (ou discurso bivocal divergente),
principalmente se o texto-fonte não fizer parte de um conjunto de discursos que
recuperam a memória coletiva, pois o não-reconhecimento praticamente impossibilitará
a construção dos sentidos.
No caso dos provérbios, objeto deste estudo, assim como nas frases feitas e nos
ditos populares, a recuperação do intertexto, de acordo com Koch (
idem
), é
praticamente certa nos casos de intertextualidade implícita, pois esses discursos
representam a sabedoria popular, a opinião pública, cuja fonte é um enunciador genérico
(denominado
ON
por Berrendonner, 1991, cf. KOCH,
ibid
, p.147), opinião endossada
por Maingueneau (
idem
, p.169), para quem a “a enunciação proverbial é
fundamentalmente polifônica”, pois sua enunciação é a retomada de outras enunciações;
o locutor faz com que seja ouvida a voz do outro, a voz da “sabedoria popular” por
intermédio de sua própria voz.
Ainda para Koch (2004, p.148), em toda intertextualidade implícita está presente
um tipo de alteração do texto-fonte com o objetivo de alcançar a produção de sentidos.
Essas alterações, denominadas
operações de retextualização
por Marcuschi (2000),
podem ser as seguintes, segundo exemplo da autora:
1...,547,548,549,550,551,552,553,554,555,556 558,559,560,561,562,563,564,565,566,567,...1290
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