(os elementos lingüísticos selecionados, como eles são combinados) e, assim o sentido
se torna um efeito sobre um sujeito
ativo
, e não uma propriedade estável. Novamente,
uma expressão ou proposição não possui sentido “próprio” perpetuamente imóvel e
inerente a ela. Pêcheux enfatiza o ponto resultante que produziu a emergência dessa
“matriz de sentido”, indivíduos são então interpelados “como sujeitos falantes (como
sujeitos de seu discurso) pelas formações discursivas nas quais representam dentro da
linguagem as formações ideológicas que os correspondem” (Pêcheux, 1975, p. 111 – 2).
Tal concepção obriga Michel Pêcheux a declarar que o sujeito é “suscetível de
esquecer”, ou seja, esse sujeito interpreta mal ou absorve a “causa” ou determinação de
seu discurso, pensando ao contrário ser seu criador, fonte e origem do sentido. O
entrelaçamento de elementos de uma a outra formação discursiva oposta é especificado
como o efeito das imposições das lutas hegemônicas atravessando o campo social.
É possível então asseverar que essa noção tem uma paternidade partilhada:
inicialmente a de Pêcheux em 1968 e depois a de Foucault em 1969. No caso deste
último pensador esse conceito, prolongando seu projeto inicial da episteme em
As
Palavras e as Coisas
, oscila constantemente entre uma interpretação em termos de
regras e outra em termos de dispersão. Foucault parece obedecer a duas injunções
contraditórias: trabalhar sobre sistemas e no mesmo processo desfazer toda unidade ou
trabalhar sobre as regularidades da dispersão.
Para Foucault a formação discursiva é vista como um conjunto de enunciados
que não se reduzem a objetos lingüísticos, tal como as proposições, atos de fala ou
frases, mas submetidos a uma mesma regularidade e dispersão na forma de uma
ideologia, ciência, teoria, etc. Dito de outro modo, para o filósofo francês o que garante
a unidade de um discurso clínico, por exemplo, não é a sua linearidade formal –
sintática ou semântica -, mas algo comparável a uma diversidade de instâncias
enunciativas simultâneas (protocolos de experiências, regulamentos administrativos,
políticas de saúde pública, etc). Michel Foucault chama de
écart
enunciativo a regra de
formação (as modalidades enunciativas) dos enunciados na sua heterogeneidade, na sua
impossibilidade de se integrar a uma única cadeia sintática.
Já em Pêcheux o conceito, gestado no ventre do marxismo/althusserianismo,
aparece como “
aquilo que pode e deve ser dito
(articulado sob a forma
de uma
arenga
de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa
, etc) a partir de uma