Outra observação sobre as legendas nas charges é que elas, além de funcionarem
como legendas, funcionam como balões que indicam falas, como os que aparecem em
desenhos em quadrinhos. Isso poderia indicar que essa legenda representa também o
posicionamento de alguém, no caso, o Homem-Legenda, ou melhor, o sujeito-chargista.
Já o nome completo do personagem Homem-Legenda, remete a nomes de super-
herois, como Homem-Aranha e Super-Homem, além disso, aparece nas charges (como
vimos nas análises) voando e com roupa que remete às roupas de super-herois, com
detalhe do logotipo estampado no peito. Assim, os super-herois da ficção protegem as
vítimas das injustiças e da violência que há no mundo. Portanto, essa associação com
super-herois pode produzir um efeito de sentido de que o Homem-Legenda vem para
salvar o leitor dos “perigos” da eleição.
Conforme visto nas análises, as charges materializam outras memórias
discursivas, como de políticos que se utilizam da mentira e das promessas de campanha
como estratégia eleitoreira, mantendo seus interesses pessoais acima dos coletivos.
Recuperam, também, a memória discursiva de que os políticos só se preocupam com os
mais necessitados e se aproximam do povo em época de eleições. Essa memória pode
remeter a cenas comuns, como de políticos pegando crianças pobres no colo, abraçando
pessoas comuns, visitando comunidades carentes, hospitais, entre outros.
Aparentemente, o sujeito-chargista demonstra descrédito na política, critica e
ironiza as situações e os políticos posicionando-se discursivamente, por meio das
legendas, como um super-heroi salvador, que alerta os leitores contra as mentiras
políticas, na tentativa de produzir um efeito de verdade através do humor e da ironia.
Em outros termos, poderíamos dizer que o discurso do político representado na charge
produz um efeito de mentira, enquanto o discurso do Homem-Legenda (a legenda)
produz um efeito de verdade.
Referências
BARONAS, R. L. Efeito de sentido de pertencimento à análise de discurso. In:
FERREIRA, M. C.; INDURSKY, F.
Análise do discurso no brasil:
mapeando
conceitos, confrontando limites. São Carlos : Claraluz, 2007. p. 197-198.
CHARAUDEAU, Patrick.
Discurso Político.
São Paulo: Contexto, 2008.
COURTINE, J. –J.
Le discours communiste adressé aux chétiens
.
Langages, v. 62,
1981.