Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 369

outra característica, a da interdiscursividade. Em outros termos, para o leitor que viveu
na mesma época dos acontecimentos abordados na charge, a recuperação de memórias
discursivas necessárias para a compreensão do comentário do chargista ocorre
facilmente, ao contrário do que aconteceria com um leitor lendo a charge dez anos após
sua produção. Para que ele compreendesse, teria que estar muito bem contextualizado
com tudo que acontecia na época em que a charge foi produzida.
Nesse sentido, Romualdo (2000, p. 6) afirma que “não podemos pensar a charge
como um texto isolado, sem relação com outros textos, que aparecem não só no próprio
jornal, mas também fora dele”.
Em relação ao humor presente na charge, Possenti (1998) afirma que este retoma
discursos existentes, já que todo dito é um já-dito. O autor considera que alguns temas
tabus como o racismo, o homossexualismo e a política, entre outros, teriam que ser
tratados com muita cautela por outros discursos que não fosse o humorístico.
O efeito de riso garante que a charge tenha uma boa aceitação pelo leitor, mas
seja temida pelos poderosos, pois, “pelo humor, o chargista se inscreve como leitor do
mundo e convida seus interlocutores a partilhar suas leituras; é, pois, um formador de
opinião” (Oliveira, 2001, p. 266). Por isso, quando se estabelece censura em algum país,
a charge é o primeiro alvo dos censores.
Romualdo (2000, p. 194) afirma que “com o riso a charge destrona os
poderosos, procura por nu aquilo que está oculto em suas personalidades e ações, ou
seja, propõe uma outra visão sobre um acontecimento ou pessoa”.
Em relação ao chargista, Benites e Magalhães (2010) acrescentam que
Ao apresentar seu olhar a respeito da sociedade, a partir de uma posição de
sujeito, o chargista o faz de uma determinada formação discursiva
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,
retomando elementos interdiscursivos que determinarão os efeitos de sentido
instaurados em sua relação dialógica com o leitor da charge (p. 156).
Efeitos de sentido
Para Análise do Discurso, é importante o modo como o sentido é produzido
como efeito. “Na perspectiva da AD a ideologia não é ‘X’ mas o mecanismo de
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Formação discursiva: “aquilo que, numa conjuntura dada, determina o que pode e deve ser dito
(articulado sob a forma de uma arenga, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um
programa, etc.)” (PÊCHEUX, 1995: 160).
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