base do dizível, sustentando cada tomada de palavra”. Nas palavras de Possenti (2009,
p. 366), a memória discursiva “remete ao modo como o trabalho de uma memória
coletiva permite a retomada, a repetição, a refutação e também o esquecimento desses
elementos de saber que são os enunciados”.
Os sujeitos estão inscritos em uma memória coletiva expressa pelo discurso, ou
seja, os acontecimentos exteriores e anteriores ao texto, a interdiscursividade reflete
materialidades que intervêm na construção do discurso (FERNANDES, 2007, p. 65).
Frente a essas afirmações, vale esclarecer que a memória discursiva não está
relacionada às lembranças que cada sujeito tem do passado, mas sim à “existência de
um mundo sociocultural, com formas de trabalho, de lazer, etc., específicas”
(FERNANDES, 2007, pp. 60-61). Pêcheux (1999) também afirma que a memória deve
ser entendida nos “sentidos entrecruzados da memória mítica, da memória social
inscrita em práticas, e da memória do historiador”.
Nesse sentido, Courtine (1981, p. 56) explica que “é a memória que faz intervir
o interdiscurso como instância de constituição de um discurso transverso que regula,
para um sujeito enunciador, o modo de ação dos objetos dos quais o discurso fala, bem
como o modo de articulação desses objetos”.
Assim, “há uma parte do dizer, inacessível ao sujeito, e que fala em sua fala.
Mais ainda: o sujeito toma como suas as palavras da voz anônima produzida pelo
interdiscurso (a memória discursiva) (ORLANDI, 2004, p.31).
A mentira no discurso político
Segundo Courtine (2006), a mentira política foi a questão central de reflexão
política ao longo dos séculos, perpassando
A República
, de Platão e
O Príncipe
, de
Maquiavel. Conforme o autor, ao longo do século XX, a mentira política entrou na era
da produção e do consumo de massa. Sendo assim, “a mentira hoje é eletrônica,
instantânea, global; o produto de uma organização racional e de uma estrita divisão de
trabalho [...]” (COURTINE, 2006, p. 23).
O autor complementa que o século XX foi a “nova era tecnológica da mentira”
(p. 23), no qual surgiram formas de ilusão política inéditas, enormes, inimagináveis,
produzidas numa escala sem precedentes que, em comparação à "sociedade de