deve ser dito por um sujeito autorizado, com base num método aceito, se inserindo
dessa maneira no verdadeiro da época. Não se trata, todavia, de qualquer ato discursivo:
enunciados do cotidiano, por exemplo, mas de “atos discursivos sérios”, isto é,
enunciados que manifestam uma incessante “vontade de verdade”. Esses enunciados
sérios então se relacionam com enunciados do mesmo ou de outros tipos e são
condicionados por um conjunto de regularidades internas, constituindo um sistema
relativamente autônomo, denominado de formação discursiva.
E é nesse sistema que internamente se produz um conjunto de regras as quais
definem a identidade e o sentido dos enunciados que o constituem. Em outros termos, é
a própria formação discursiva como uma
lei de série, princípio de dispersão e de
repartição dos enunciados que define as regularidades que validam os seus enunciados
constituintes, que por sua vez instauram os objetos sobre os quais ela fala, os sujeitos
que legitima para falar sobre esse objeto, definem os conceitos com os quais operará e
as diferentes estratégias que serão utilizadas para definir um “campo de opções
possíveis para reanimar os temas já existentes... permitir, com um jogo de conceitos
determinados, jogar diferentes partidas” (Foucault, 1993, p. 45).
Depois dessa breve apresentação do conceito de formação discursiva em Foucault,
discuto a emergência desse conceito no arcabouço teórico-metodológico proposto por
Michel Pêcheux. O conceito de formação discursiva aparece pela primeira vez em Michel
Pêcheux no seu artigo
A semântica e o corte saussuriano: língua, linguagem e discurso.
Ao criticar os lingüistas pós-saussurianos – estruturalistas e gerativistas - por terem de
alguma maneira trazido o modelo fonológico saussuriano para o domínio do sentido,
produzindo uma espécie de
filosofonema
que caracterizaria toda a lingüística, Pêcheux
mostra que ao se pensar as sistematicidades da língua como um
continuum
de níveis, se
está na verdade, recobrindo o corte saussuriano entre
langue/parole.
“O elo que liga as
significações de um texto as suas condições sócio-históricas, não é secundário, mas
constitutivo das próprias significações” (Pêcheux, 1971, p.147).
Pêcheux propõe então
uma
intervenção epistemológica
nas semânticas lingüísticas. É preciso “mudar de
terreno” e encarar uma nova problemática o
discurso.
Esse conceito deverá ser pensado à
luz do materialismo histórico. É a partir dele que se pode fazer a localização de novos
objetos, colocando-os em relação com a ideologia.