Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 389

renitente à ordem da linguagem em geral (...). [É preciso, todavia], notar que o
próprio Foucault anulará essa oposição, intitulando sua aula inaugural no
Collège
de France
como
A ordem do discurso
, em 1971; e o par discurso/fala, no qual o
discurso se torna eco lingüístico da articulação entre saber e poder, e no qual a
fala, como instância subjetiva, encarna ao contrário, uma prática de resistência à
“objetivação discursiva”.
Com base na citação de Judith Revel é possível asseverar então que em 1971 ao
postular a existência de uma
ordem do discurso
que é distinta tanto da ordem da língua
quanto da ordem da fala ou da ordem do texto, Michel Foucault produz um
deslocamento no conceito de discurso, pois a análise deste objeto passa a se dar em
termos de estratégias e de práticas. Em outros termos, a partir de 1971, o discurso deixa
de ser analisado por Michel Foucault enquanto um “regime de discursividade e de sua
eventual transgressão, mas como um objeto que existe entre grandes tipos de discurso e
as condições históricas, econômicas, as condições políticas de seu aparecimento e de
sua formação” (REVEL, 2005, p. 38). O deslocamento produzido Michel Foucault, a
partir de 1971, não significa que o tema discurso tenha desaparecido das preocupações
deste filósofo, mas que esse tema passou a ser apreendido de outra maneira. Em suma, é
possível dizer que Michel Foucault não apreende o discurso da mesma maneira nas
fases arqueológica e genealógica de seu pensamento. Todavia, nessas duas fases o
discurso é para Foucault um objeto essencialmente empírico.
Em Michel Pêcheux, no entanto, sobretudo, no livro
Análise Automática do
Discurso
, o termo discurso possui uma acepção bastante distinta da de Foucault. É
impossível, afirma Michel Pêcheux (1969), “analisar um discurso como um texto [...] é
necessário referi-lo ao conjunto dos discursos possíveis, a partir de um estado definido
das condições de produção”. A esse respeito nos diz Maldidier (2003, p. 21): “o
discurso deve ser tomado como um conceito que não se confunde com o discurso
empírico sustentado por um sujeito, nem com o texto, um conceito que estoura qualquer
concepção comunicacional de linguagem. Em outras palavras, o discurso para Michel
Pêcheux, deve ser pensado na sua estreita relação com as condições de produção.
No artigo de 1971, elaborado em co-autoria com Claudine Haroche e Paul
Henry, intitulado “La sémantique et la coupure saussurienne: langue, langage,
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