confrontam sobre o terreno da máscara e do jogo verbal: “o homem e o lobo do
homem”, conforme escrito na capa da revista
Semantikos
, que se inscreve
largamente nesta corrente.
Essas correntes, na compreensão de Pêcheux, “tomam filosoficamente posição
na luta de classes por intermédio da sua referência implícita ou explícita à história”.
Assim,
- a tendência lógico-formalista coloca, filosoficamente, que a história não existe:
o espírito humano é concebido como a-historicamente transparente a si mesmo,
sob a forma de uma teoria universal das idéias que aparecem, assim como uma
pseudo-ciência do todo, capaz de dirigir as origens e os fins. A luta ideológica de
classes, portanto, não existe mais, no sentido forte do termo: ela é tomada, na
verdade, como conflitos lógicos-éticos e psicológicos que participam da essência
humana a sociedade;
- a segunda corrente contém uma tese filosófica que eu qualificarei brevemente
de historicista: ao contrário às precedentes, ela coloca a existência da história,
mas sob a forma da diferença e das transformações sociais, sob a modalidade das
heterogeneidades empíricas que recobrem a homogeneidade tendencial
subjacente à sociedade humana. O filósofo Lucien Sève exprime à sua maneira
essa concepção historicista das lutas de classes, quando afirma: “A política
passará, mas a psicologia não passará”. Ele acentua, com efeito, que a
heterogeneidade conflitual que marca a divisão política é historicamente
contingente, de acordo com aquilo que L. Sève chama de a essência social do
homem;
- uma palavra somente sobre aquilo que denominei a terceira tendência, aquela do
“risco da fala”, para dizer que ela não tem a autonomia filosófica das outras duas
primeiras tendências, de maneira que ela faz alianças teóricas tanto com uma
quanto com a outra, sob a base de uma concepção filosófica do afrontamento
dialógico, que autoriza, por sua vez, uma teoria conflitual da história como duelo-
dual e uma dissolução da história no dueto-dual.
Com base nesses apontamentos Michel Pêcheux conclui que:
1)
A filosofia espontânea da tendência lógico-formalista veicula, explícita
e implicitamente, a posição de classe da ideologia burguesa fundada sobre a
eternidade antropológica jurídico-moral do triângulo sujeito-centro-sentido;
2)
A tendência historicista (e, acessoriamente, certos aspectos da terceira
tendência), colocando filosoficamente a história como série de diferenças,
deslocamentos, mudanças, etc. subordina, de fato a divisão política (que
“passará”) à unidade antropológica (que “não passará”): essa segunda posição
filosófica, opondo-se diametralmente ao eternitarismo da primeira, entende a
dominação como forma de interiorização. A posição de classe que resulta dessa
invasão ideológica constitui a forma teórica do
reformismo
, subordinando a
divisão à unidade, e pensando a contradição como resultado do encontro de
contrários preexistentes, separando, assim, a existência das classes e a luta das
classes;
3)
Ao analisar as filosofias espontâneas veiculadas pelas principais
correntes lingüísticas, não pretendendo condenar o conjunto dos trabalhos, os
resultados obtidos, os conceitos e os problemas, mesmo dando-lhes o rótulo de
“burguês” ou de “reformista”: as práticas de uma ciência não coincidem jamais
totalmente com as filosofias espontâneas que elas recobrem, visto que certos