Entretanto, ao verificar o inventário intelectual de Michel Pêcheux é possível
constatar que o gérmen desse conceito aparece alguns anos antes de 1971, num outro
texto de Pêcheux,
Lexis et metalexis: les problemes des determinants
4
, escrito a quatro
mãos com C. Fuchs. Na verdade, o esboço de tal conceito aparece em forma de nota de
fim no texto de A. Culioli,
Notes sur la formalisation en linguistique.
Le fonctionnement du langage a ses multiples niveaux interdit la dichotomie
simplificatrice entre
la
langue
(conçue comme système nécessaire) et la
parole
(notion baptisant, sans l’expliquer, la distance entre cette nécessite du système et
la fameuse ‘liberté du locuteur’): en fait il importe de reconnaître que ces niveaux
de fonctionnement du langage sont eux-mêmes soumis a des règles, mais que
l’appréhension de ces règles echape (partiellement) au linguiste, dans la mesure
ou des déterminations non linguistiques (par exemple des effets institutionnels lies
aux propriétés d’une formation sociale) entrent nécessairement en jeu. Il ne s’agit
nullement de remettre en cause l’idée selon laquelle ‘la langue n’est pas une
superstructure’ (au sens marxiste de ce mot) mais d’avancer que les
formations
discursives
sont, elles, fondamentalement liées aux superstructures, à la fois
comme effets et comme causes. Une théorie de ‘l’effet de discours’ ne peut ignorer
ce point, quelle que soit par ailleurs la manière dont elle formule son objet (sous
la forme d’une ‘pragmatique’ d’une ‘rhétorique ou d’une ‘stratégie de la
argumentation’)
(Pêcheux & Fuchs, 1968, p. 32) (grifos meus).
Chamo atenção para o fato de que o conceito
formação discursiva
embora não
esteja desenvolvido, está enunciado desde 1968, data da publicação do artigo de Culioli,
Pêcheux e Fuchs. O que me possibilita asseverar que, pelo menos no seu processo de
gestação, esse conceito não veio da
A Arqueologia do Saber
de Michel Foucault, cuja
primeira publicação data de 1969. Embora as discussões sobre
A Arqueologia do Saber
estivessem latentes entre a
intelligentsia
francesa, mesmo antes de sua publicação,
penso que esse conceito tenha derivado do paradigma marxista
formação social
,
formação ideológica
e, a partir daí,
formação discursiva
.
Acredito que Pêcheux propõe mais uma consideração formal dos processos
discursivos tanto no interior dos discursos quanto entre um discurso e outro, e menos
uma consideração substantiva de ideologias particulares e formações discursivas dentro
de uma forma concreta, estabelecida. De acordo com essa definição, uma formação
discursiva parece-me melhor compreendida como um jogo de princípios reguladores
que formam a base de discursos efetivos, mas que permanecem separados deles. Esta
formulação sugere então que palavras, expressões e proposições adquirem seus
significados a partir de determinadas formações discursivas nas quais são produzidas
4
La formalisation en linguistique, in Cahiers pour l’analyse, Editions du Seuil, n. 9, juillet 1968,
livro
organizado por A. Culioli.